Eleguá é um dos Orixás mais queridos na Santeria e na religião Yorubá. Conhecido por seus muitos nomes como Exu, Elegguá e Elegbara, este Orixá é o mensageiro divino e guardião dos caminhos.
Sempre deve ser o primeiro a ser atendido em qualquer cerimônia, pois faz a ponte entre os humanos e as divindades. Ele representa tanto a luz quanto as sombras, e sua energia dinâmica e jovem o torna uma figura essencial para a comunicação espiritual.
Quem é Eleguá?
Eleguá é conhecido por diversos nomes: Exu, Elegguá, Elegbara, Esu, Legba ou Bara. Em Cuba, Brasil, e até na própria Nigéria, Eleguá é uma divindade fascinante e complexa.
A maneira mais simples e ao mesmo tempo mais rica de definir Eleguá é como um “Orixá ambíguo”. Ele pode ser um protetor perfeito dos seres humanos, assim como um juiz firme de sua conduta.
Eleguá equilibra luz e sombras. Sua energia é vibrante e jovial. Além de ser o mensageiro das divindades, é o intérprete da linguagem dos Orixás e dos homens, sendo assim, peça fundamental na comunicação espiritual.
Ele melhora as relações entre o céu e a terra e informa Olodumare sobre o comportamento dos Orixás e dos homens, especialmente no que diz respeito aos sacrifícios.
Com sua disposição para a ação e capacidade de se adaptar às mudanças humanas, Eleguá é um santo versátil que assume diversos papéis sociais. Ele é uma força vital para iniciar qualquer trabalho. Como Orixá das mudanças e da vida, nada acontece sem seu conhecimento ou participação.
Na Santeria, Eleguá está presente nas esquinas, encruzilhadas, caminhos, entradas e saídas da cidade, no monte e na savana. Sempre em movimento, ele simboliza energia em negócios, comércio, empregos, viagens, mudanças, revolução, idiomas e a mente prática.
Eleguá é visto como um Orixá maior, dono das chaves do destino e guardião entre a desgraça e a felicidade. Ele lidera o grupo dos guerreiros (Eleguá, Ogun e Oxóssi).
Como é este Orixá? Temperamento e Personalidade
Eleguá pode ser tanto gentil quanto rigoroso. Pacífico e protetor, mas também indiferente. Sua energia reflete a ambiguidade da natureza, trazendo equilíbrio. Ele conhece todos os caminhos entre o físico e o espiritual, além de todas as possíveis armadilhas. Tem uma personalidade sensível, ressentindo-se facilmente com ofensas.
Dependendo do caminho (escala ou avatar que representa o Orixá), Eleguá pode aparecer como uma criança travessa e gulosa; em outros contextos, com uma personalidade jovial, enérgica e dinâmica; ou ainda como um homem forte e viril ou muito idoso.
Também é visto como símbolo de alegria e jovialidade, apreciando brincadeiras, mas também podendo ser firme e severo.
Em qual signo Eleguá desceu à terra? (Odu Isalaye)
Eleguá chegou a este mundo através do Odu: Ogbe Irete (Ogbe Ate). Na conversa desse signo, podemos encontrar informações interessantes sobre seus caminhos e como ele se espalhou pelo mundo.
Número de Eleguá
O número de Eleguá é o 3 ou qualquer um de seus múltiplos, especialmente o 21. O número 3 é visto como divino e simboliza o início e o fim de tudo. Representa três elementos fundamentais: um princípio, um meio e um fim.
Esse padrão aparece no tempo (presente, passado e futuro) e na Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). O número 21 também é importante para Eleguá, pois reflete traços de sua personalidade: sociedade, dualidade, charme e comunicação.
A combinação do 2 e do 1 no 21 traz agrupamentos, equilíbrio, missão e destino da alma, começos, progresso e sucesso. A ligação entre Eleguá e o número 21 cria uma energia que ajuda na realização de objetivos.
Dia de Eleguá
A segunda-feira é o dia da semana dedicado a Eleguá, já que geralmente é quando começamos as atividades. Sua festa anual é comemorada em 13 de junho, graças ao sincretismo com o santo católico Santo Antônio de Pádua. Além do mais, seus dias favoritos de cada mês são: 1, 3, 7, 11 e 21.
O Colar de Eleguá (Eleke)
Os colares de Eleguá são feitos com contas vermelhas, pretas e brancas. A quantidade de cada cor e o uso delas dependem do caminho específico de Eleguá que é entregue ao consagrado. Mas, claro, sempre seguimos os números que correspondem ao Orixá.
Suas Cores
As cores de Eleguá são vermelho, preto e branco (em algumas ocasiões).
- Vermelho: Uma cor cheia de história, presente em muitos rituais desde os tempos antigos. Utilizada em cerimônias funerárias, sacrifícios ou curas, o vermelho simboliza vida. Ele evoca excitação, força, vitalidade, expansão e domínio, todas características relacionadas a Eleguá.
- Preto: Representa a escuridão, incluindo a espiritual. Em algumas culturas, acredita-se que energias ou entidades negativas se escondem na penumbra. Essa cor traz mistério e temor, pois, quando predomina, não se pode diferenciar formas ou caminhos. No entanto, ela também expressa conversão, austeridade, poder, elegância, prestígio e autoridade. Por exemplo, algumas vestimentas de sacerdotes, juízes, policiais ou formandos universitários são desta cor.
- Branco: Em alguns caminhos de Eleguá, a cor branca é usada, simbolizando principalmente a luz. É a presença de Deus, a pureza, a ordem e a clareza em todos os sentidos.
A combinação dessas cores reflete a própria essência de Eleguá. O vermelho e o branco contrastam com o preto, mostrando a ambiguidade da natureza do Orixá: da escuridão (preto) à luz (branco) e à energia vital (vermelho). Assim, Eleguá se manifesta como o que é: tudo e nada, a vida e a morte, o princípio e o fim, a guerra e a paz, o um e o outro.
A Imagem de Eleguá
Eleguá é retratado com uma vestimenta e acessórios que incluem um pequeno colete, calças justas até o joelho e uma bolsa cruzada no peito, geralmente feita em tecido de saco ou em tecidos vermelhos e pretos. Ele usa um chapéu de palha e carrega seu garabato, além de pequenos frascos cheios de aguardente.
Atributos e Ferramentas
Eleguá costuma usar os seguintes elementos como ferramentas opcionais:
- Uma garrafa de aguardente.
- Um chapéu de palha ou pano.
- Uma maraca (chocalho) decorada com suas cores.
- Um garabato ou bastão de poder, feito com um galho de árvore de goiabeira.
- Moedas para atrair boa fortuna.
- Uma armadilha de rato para proteger seus devotos de armadilhas.
- Brinquedos infantis como uma forma de carinho.
- Chaves de portas para abrir os caminhos dos iniciados.
- Um prato de barro onde se monta seu fundamento.
História de Eleguá
Sua narrativa começa em uma tribo africana, onde um rei e sua esposa tiveram um filho chamado “Eleguá”. Durante a adolescência do príncipe, ele fez uma caminhada e chegou a uma encruzilhada onde quatro caminhos se encontravam.
Ficou por lá um tempo e notou no chão um coco seco que emanava uma luz própria, recolhendo-o imediatamente.
Cheio de curiosidade, ele levou o objeto ao palácio e contou aos seus pais sobre a estranha luz que havia visto. Ninguém acreditou em sua história, e ele acabou deixando o coco de lado.
Uma vez no chão, o coco rolou até se esconder atrás de uma porta do palácio. Um dia, enquanto muitos personagens importantes do reino estavam presentes, o coco voltou a emitir aquelas inexplicáveis luzes, surpreendendo e assustando a todos.
Três dias após esse evento, o jovem príncipe morreu, e durante suas honras fúnebres, o coco permaneceu iluminando, o que fez com que fosse temido e respeitado por todos.
Com o tempo, o povoado foi tomado por conflitos e perdas. Os anciãos da região, após muita conversa, concluíram que essa situação era devido ao estado de abandono do coco deixado por Eleguá.
Decidiram adorá-lo, mas ao procurá-lo, perceberam que estava em mau estado devido ao tempo. Optaram por substituí-lo por uma pedra, que tinha a capacidade de se manter em perfeitas condições, independentemente de sua antiguidade.
Essa história simboliza o nascimento e origem de Eleguá. Conforme o provérbio Yorubá que diz: “Ikú lobí Osha”, traduzido como: “o morto deu à luz ao santo”. A morte do príncipe resultou na adoração de sua espiritualidade por seus descendentes, através da pedra que substituiu o coco.
Relação entre Eleguá e Exu
Na Nigéria, Eleguá é carinhosamente conhecido como Eşu (Exu). Sem a participação de Exu, a prática ritual não existiria, pois sua intervenção é vital para manter os canais energéticos benéficos abertos e evitar caminhos prejudiciais.
Por isso, Exu é tanto temido quanto adorado, mas não é visto como uma divindade demoníaca, e sim como uma espiritualidade que equilibra este plano.
Na Santeria ou Regra de Osha, Exu está relacionado a Eleguá. No entanto, enquanto Eleguá é mais dócil e apaziguador, Exu possui uma energia mais ágil e caprichosa.
A dualidade Exu-Eleguá representa a coexistência do positivo e do negativo, duas energias paralelas que devem ser louvadas para evitar contratempos e garantir que os sacrifícios cheguem ao seu destino desejado.
Normalmente, o fundamento de Eleguá é colocado na porta das casas, enquanto Exu é colocado em áreas externas, criando a fronteira entre duas energias equilibradas.
Eleguá e Exu são o mesmo Orixá?
A relação entre Eleguá e Exu tem sido motivo de debate. Segundo alguns estudos, como os de Leonel Gámez Oshe Niwo, Exu e Eleguá são a mesma divindade. Em Cuba, para diferenciar o Exu com carga do Otá de Orixá, começou-se a chamar Elegbara à pedra sem carga adicional.
Assim, os Olorishas entregam o fundamento de Exu Elegbara, enquanto os Babalawos fornecem um fundamento de Exu respaldado pela teologia de Ifá, com diferentes formas de Exu conhecidas como “caminhos”, identificadas em cada Odu de Ifá.
Cada região do reino Yorubá tem seus próprios costumes para construir os fundamentos de Exu, resultando em nomes e cargas distintas. Por exemplo, os moradores de Ketú são conhecidos como alaketu, e seu Exu é chamado Exu Aleketu ou Alakentu.
Esses caminhos são determinados durante a consagração de Kariosha e refletem as experiências acumuladas pelos Orixás e seus devotos.
Em algumas terras Yorubás, os Olorishas consagrados a Exu conheciam e manejavam profundamente as cargas de seu Orixá tutelar, mas essas práticas não se difundiram em Cuba, ao contrário dos conhecimentos sobre Exu contidos nos Odu de Ifá, que se tornaram conhecidos e se mantêm até hoje.
A interpretação de Eleguá é tão ambígua quanto sua natureza. Alguns pesquisadores encontram dificuldades ao tentar compreender seu significado, já que a energia de Eleguá pode ser surpreendente e complexa.
Adrian de Sousa, em seu livro “Echu-Elegguá Equilibrio dinámico de la existencia”, menciona que muitos praticantes da regra de Osha e Ifá na América Latina, especialmente em Cuba, consideram Eleguá e Exu como divindades distintas.
No entanto, um percentual menor os identifica como a mesma divindade, embora sua concepção possa gerar dúvidas ao não poder ser completamente argumentada com base nos Odu de Ifá.
O que diz Ifá sobre Eleguá?
Eleguá chega a este mundo através do Odu de Ifá: Ogbe Ate. Mas não é só por aí que ele aparece, suas presenças nos tratados dos Odu de Ifá são bem comuns. Por exemplo, no Odu Ogunda Meji, Exu Elegbara está junto com Baba Ogunda Meji e Ogun na jornada do Céu à Terra.
Neste Odu, Exu Elegbara é visto como o responsável pelos eboses ou sacrifícios, sendo quem leva a mensagem para as outras divindades e garante que o oficiante resolva o problema pelo qual fez o sacrifício.
Além do mais, este Odu também conta que, por ordem de Olofin, Eleguá foi premiado na Terra com uma coroa e um colar de contas pretas, brancas e vermelhas, em reconhecimento ao seu trabalho como mensageiro divino e transmissor do ebo.
Outra referência aparece no Odu Ojuani Shogbe, onde vemos o lado mais travesso e às vezes mais negativo do Orixá. Neste Odu, são contados episódios em que Eleguá impôs sua vontade e supremacia sem se preocupar tanto com as consequências.
Exu-Eleguá disse a Orunmilá: Meu amigo é quem me alimenta e me respeita, enquanto meus inimigos são aqueles que me desprezam e me deixam passar fome…
O que se pede a Eleguá?
Eleguá é um Orixá com o propósito de trazer harmonia à vida das pessoas, promovendo um equilíbrio que nos permita viver em paz. Normalmente, procuramos sua ajuda em diversas situações:
- Sintonia e Bênção: Para estar em sintonia com Eleguá, desfrutando de sua bênção e simpatia, garantindo que ele nos ajude em vez de interferir negativamente.
- Evitar Conflitos: Para prevenir brigas, confrontos, acidentes, e calamidades, tanto públicas quanto pessoais.
- Abertura de Caminhos: Para que ele abra caminhos em nossa vida, permitindo um desenvolvimento positivo.
- Mensageiro Divino: Para que leve nossas mensagens e ebós a Olodumare e outros Orixás, agindo como intermediário entre nós e as divindades.
- Proteção: Para proteger nossos templos, lares e cidades.
- Equilíbrio Espiritual e Material: Para manter o equilíbrio entre nossos planos espiritual e material.
- Estabilidade Econômica: Para alcançar evolução e estabilidade financeira.
- Livrar-se de Armadilhas e Inimigos: Para evitar armadilhas e nos proteger dos inimigos.
- Negociações e Domínio: Para alcançar boas negociações e persuasão.
- Proteção de Crianças: Como protetor dos pequenos, confiamos a ele o cuidado das crianças.
- Sorte em Jogos de Azar: Sendo o dono dos jogos de azar, pedimos a ele sorte nessas práticas.
- Solução de Problemas: Eleguá pode ser invocado para resolver uma ampla gama de questões, pois conhece tudo o que acontece no plano terrestre e espiritual.
Por que se recebe Eleguá?
Eleguá é o Orixá que inicia todas as práticas cerimoniais da regra de Osha e Ifá. Receber a otá de Eleguá é o primeiro passo para se iniciar nesta religião. Ter esse fundamento alinhado com nossa energia proporciona vibrações positivas que favorecem nosso desenvolvimento.
Cuidar de Eleguá é essencial para acalmar sua natureza intensa. O Otá de Eleguá é uma pedra consagrada que simboliza sua presença na vida do iniciado.
Como se recebe a Otá de Eleguá?
A primeira cerimônia para receber o otá de Eleguá é realizada através de um ritual de um dia. Esse rito, cheio de segredos que só os consagrados conhecem, transforma a pedra escolhida de algo comum em algo sagrado por meio de cantos, elementos específicos e a liturgia correspondente.
Quem oficia a consagração, seja a iyalosha (madrinha) ou o babalosha (padrinho), torna-se o guia religioso do iniciado para toda a vida, entregando-lhe o fundamento ao final do ritual, que deve ser cuidado conforme as práticas do Orixá.
Quando as pessoas são consagradas em Kariosha (fazem santo), esse fundamento passa novamente pelo mesmo ritual, mas dessa vez acompanhado de uma mão de búzios. Com esses búzios, Eleguá revela os conselhos de Ita imale ao recém-iniciado após o terceiro dia de consagração.
Os filhos de Eleguá, ao coroar santo (fazer santo), ganham em dobro o seu anjo da guarda. Esses dois Otases são conhecidos como: Eleguá Vocero e Eleguá de cabeceira.
Como Cuidar de Eleguá
Para cuidar de Eleguá, pode-se esfregar sua pedra com azeite de dendê e mel. Além do mais, coloca-se milho torrado, borrifa-se pó de jutia e peixe defumado, oferece-se aguardente, fuma-se charuto e exala-se baforadas de fumaça.
Acender uma pequena vela também é importante. É necessário alimentá-lo pelo menos uma vez por ano ou quando for consultado e ele pedir os animais para sacrifício.
Como se cumprimenta Eleguá?
Eleguá deve ser cumprimentado todos os dias de manhã, e também ao sair e chegar em casa. A forma correta de cumprimentá-lo é colocando uma mão no chão e com a outra, mantendo o punho fechado, dar três batidinhas no chão em frente ao seu fundamento.
Ao cumprimentá-lo, pede-se que nos acompanhe com sua benção, que nos ofereça saúde e calma, e permita que as espiritualidades da sorte, do dinheiro e da boa fortuna encontrem o caminho certo para chegar até nós.
Também se pede para nos afastar de tudo o que é negativo, da morte, da doença e de qualquer contratempo que possa nos assombrar. Eleguá não é saudado ou pedido de joelhos; pode ser feito sentado, em pé ou agachado.
O que Eleguá gosta?
Eleguá tem suas preferências e vale a pena conhecê-las:
- Frutas Favoritas: Goiabas e coco, geralmente com um toque de mel.
- Comida Favorita: Peixes inteiros fritos em azeite de dendê (como sardinhas ou pargos).
- Outros Alimentos: Pipocas ou milho torrado, bolinhos de milho ou inhame embrulhados em folhas de banana e bolinhas feitas com os mesmos ingredientes em múltiplos de 3.
- Bebida Favorita: “Sheketé”, uma deliciosa mistura de aguardente, mel e milho torrado.
- Ofertas: Moedas ou notas de qualquer valor.
- Outros Gostos: Bolas, soldados de brinquedo, pipas, chaves, chapéus de palha, moedas de prata e cajados de pastores. Eleguá se veste de vermelho e preto, e às vezes adiciona branco ao seu estilo. Ele adora dançar de maneira divertida para chamar a atenção. Também aprecia doces, charutos, vinho branco de cozinha, peixe defumado, carne de jutia defumada e óleo de palma vermelho.
O que come?
Eleguá aceita uma variedade de animais em suas oferendas:
- Animais Comuns: Cabritos, galinhas e pintinhos, galos, ratos, jutias, veados, jabutis, galinhas e porcos.
- Animais Específicos: Em alguns casos, pombas e galinhas d’angola são oferecidas através de cerimônias específicas e sob sua autorização, já que esses animais são tabu para Eleguá.
O que ele não gosta?
Existem algumas coisas que não agradam a Eleguá e é bom evitar para não aborrecê-lo:
- Não gosta de pombas nem galinhas d’angola, pois isso o enfraquece. Se forem oferecidas, deve ser com uma cerimônia especial.
- Não é fã de dívidas. Se achar que alguém não cumpre suas promessas, pode causar problemas.
- Prefere que não assobiem em sua presença.
- Não gosta de maldições em sua presença ou dentro da casa.
- Evite mexer no seu fundamento se teve relações sexuais no dia anterior.
- Mulheres devem evitar tocar Eleguá ou outros Orixás durante a menstruação.
- Mexer no seu fundamento só após um bom banho!
- Não gosta de comidas ou bebidas com pimentas picantes, pois altera seu fogo natural.
- Prefere evitar calor ou comidas quentes.
- Não curte óleo de girassol.
Os Caracóis de Eleguá
O diloggún de Eleguá, composto por 21 búzios (caracóis), é uma parte especial entregue apenas aos consagrados na Santeria, ou seja, aqueles que completaram o Kariosha. Essa quantidade é um pouquinho maior do que a de outros Orixás, que geralmente possuem 18 búzios. A diferença dos três caracóis extras é explicada através de um patakí interessante:
Patakí: Por que Eleguá Tem 21 Dilogunes
Na terra de Oshara, havia um homem chamado Agbanukue que tinha três filhos: Ninona, Osobi e Eleguá. Os três trabalhavam como agentes funerários. Um belo dia, o rei de sua terra faleceu na terra dos sinos, e os irmãos foram encarregados de trazer o corpo de volta.
Durante a viagem, cada irmão cometeu um erro terrível: Ninona matou seu marido, Osobi decapitou sua esposa e Eleguá golpeou sua esposa na nuca. Mesmo assim, continuaram a viagem, esperançosos de que receberiam uma grande recompensa.
O rei falecido era impotente, e antes do sepultamento, seu filho mais velho, Olonu Ota, consultou Ifá. A adivinhação revelou que Eleguá deveria estar presente. Quando chegou, Olonu Ota pediu a Awó Shaketa um pó para aumentar sua potência sexual. Awó Shaketa encarregou Eleguá de entregar o pó, mas ele acabou entregando o pó errado.
Depois de completar a missão, cada irmão recebeu 18 búzios como recompensa. Sobraram 3 búzios, e Awó Shaketa sugeriu que os dividissem. Isso gerou uma pequena briga entre os irmãos, que não conseguiam se entender.
Eleguá se afastou dos irmãos e entrou na mata, onde fez um ritual com uma escultura de madeira, transformando-a em um ayá (cachorro). Ao encontrá-lo, após discutirem, Eleguá sugeriu que os búzios restantes fossem para Baba Egun.
Enterraram os búzios e todos ficaram satisfeitos, mas depois Eleguá desenterrou os búzios e infelizmente matou o ayá para que ele não o denunciasse.
Eleguá voltou ao palácio do rei Olonu Ota, que ainda estava impotente. Olofin, ao saber disso, ofereceu metade de seu reino a quem pudesse ter relações com sua filha. Eleguá, ao dar os pós errados aos outros, foi o único que conseguiu.
Por fim, Olofin descobriu as ações de Eleguá, mas não pôde tirar sua posição. Como punição, decidiu que Eleguá viveria fora da casa, mas seria o guardião de todos. Assim, Eleguá ganhou 3 dilogunes adicionais, sendo o primeiro que se deve receber para consagrar Ifá e outros Oshas, estabelecendo a tradição de que todos devem ter um Eleguá pessoal.
Este patakí nos conta por que Eleguá tem 21 dilogunes e destaca seu papel como guardião e protetor na Santeria.
Eleguá na Religião Católica (Sincretismo)
Eleguá, sempre dinâmico e em movimento, é associado a várias figuras do catolicismo, como a Ánima Sola, o Santo Niño de Atocha, São Francisco, São Roque, e até ao demônio. O sincretismo mais notável se dá com Santo Antônio.
Santo Antônio é um protetor poderoso, sempre próximo de seus devotos e capaz de se adaptar às suas necessidades, renovando constantemente seu culto, assim como Eleguá. Muitas orações tradicionais espanholas a Santo Antônio destacam a importância de rezar três vezes, refletindo o número perfeito e simbólico de Eleguá.
O culto a Santo Antônio se espalhou graças aos franciscanos e ao apoio da monarquia, chegando a muitos lugares através dos colonizadores espanhóis e portugueses acompanhados por frades franciscanos.
Essa presença em diversos lugares reflete a característica de Eleguá de estar em todos os caminhos, espelhando seu sincretismo com Santo Antônio.
Santo Antônio também tem tradições militares, sendo associado à fé na vitória durante as guerras peninsulares em Portugal, caracterizando-se como um Guerreiro, assim como Eleguá.
Adicionalmente, Eleguá ganhou atributos do Novo Mundo durante o sincretismo, como:
- A bengala do Peregrino (Garabato).
- A bolsa do peregrino (Güiro).
- O chapéu do peregrino (chapéu de Yarey).
Esses acessórios, representativos de longas jornadas, foram rapidamente ligados ao Dono dos Caminhos, com suas vestes adaptadas aos trajes típicos do camponês cubano.
Como são os tambores ou festas de Eleguá?
Nas festas rituais da Santeria, celebradas em nome de Eleguá, prática herdada dos festivais da religião Yorubá, costuma haver muitas pessoas. É um verdadeiro banquete com comida oferecida à Divindade e a todos os presentes.
Monta-se um trono com tecidos da cor do Orixá, adornado com flores e acompanhado de muitas frutas. Há também doces, caramelos e uma pinhata que é repartida entre as crianças presentes na celebração.
Durante o toque de tambor em sua honra, Eleguá pode incorporar em algum de seus filhos durante a celebração. Sua dança é cheia de energia e ritmo, dançando em um pé só e dando muitas voltas. Ele usa o cajado em seus movimentos para representar que abre os caminhos entre a vegetação do monte.
Também se comporta como uma criança brincalhona e divertida, fazendo brincadeiras com os presentes. Ainda assim, a sabedoria com que aconselha seus seguidores para a resolução de conflitos é muito precisa e certeira.
Conclusão
Eleguá é uma figura importante na Santeria e na religião Yorubá, representando a conexão entre o divino e o humano, a luz e a escuridão, e os começos e finais. Como guardião dos caminhos e mensageiro divino, ele é um Orixá indispensável em qualquer prática cerimonial.
Com suas várias manifestações e sincretismos, Eleguá mostra uma adaptabilidade e dinamismo únicos, refletindo a rica cultura e espiritualidade das tradições africanas e sua evolução no Novo Mundo. Ao aprendermos mais sobre suas características, histórias e práticas, podemos valorizar a profundidade e complexidade deste tão respeitado Orixá.
Apaixonada pela cultura Yorubá e Bantu. Minha jornada é dedicada à exploração da espiritualidade ancestral, mergulhando nas ricas tradições dos Orixás e na sabedoria que conecta nosso passado ao presente. O Templo Lukumi é meu espaço para compartilhar insights sobre mitologia, rituais e a influência contínua dessas tradições em nossa vida moderna.
Excelente explicação. Conteúdo objetivo e fundamentado. Parabéns pelo trabalho.