Obatalá foi um antigo rei yorubá deificado. Filho de Olofin e Olodumare, é considerado um Orixá de grande importância e posição. Sua espiritualidade representa a natureza mais pura. Conta-se que sua missão era criar os seres humanos, mas, após beber demais do vinho de palma, ele adormeceu, deixando a tarefa ser concluída pelo Orixá Oduduwa.
Quem é Obatalá?
Obatalá, uma figura central na religião Yorubá e estendida à Santeria, é venerado como o “Rei da Pureza”, “Senhor das Roupas Brancas” e “Senhor das Visões”. Este orixá, conhecido também como “Orishanlá” (o grande orixá) e “Obaba Orugbo” (o antigo Pai-Rei ou o Pai Ancião), simboliza a autoridade divina e a pureza espiritual.
Seu nome, que se descompõe em Obá (Rei), ti (de ou parecido com) e ala (branco ou fronteira), revela seu papel como soberano da pureza e guardião das fronteiras espirituais e territoriais Yorubás.
“Obatalá representa o conceito de conhecimento, o uso do nosso cérebro para pensar, o intelecto, as ideias e o processo de conhecer e compreender”.
(Diane Elizabeth Caudillo. Prayers to the Orishas a look at Santeria. 2007, p. 11).
Origens e Significado
Obatalá é o arquétipo da humanidade, encarregado de moldar as formas de todas as criaturas no útero, destacando sua importância como divindade criadora. Diz-se que sua chegada à terra se deu através do odu Oshe Fun (isalaye), estabelecendo-o como um pilar de pureza, justiça e saúde dentro da Santeria, onde é considerado o dono de todas as cabeças e o juiz supremo da religião.
Influência e Autoridade
Como um orixá que não pode ser influenciado por Exu, Obatalá possui uma autoridade superior entre as divindades. Foi criado por Olodumare para contrabalançar as influências negativas de Exu sobre outros Orixás, destacando seu papel como protetor e guia espiritual.
Sua intervenção é crucial para favorecer a concepção de filhos por mulheres inférteis e para proteger pessoas com características físicas anormais, que são consideradas sagradas sob sua proteção.
O Culto a Obatalá
Os seguidores de Obatalá, ao chamá-lo de “Baba” (Pai), reconhecem seu status elevado e sua presença espiritual, simbolizada pelos fios brancos em seus cabelos. O culto a Obatalá enfatiza a pureza, o respeito e a gratidão a essa divindade generosa, mas autoritária, cuja influência se estende pela cultura e espiritualidade Yorubá e Santeria.
Outros Nomes de Obatalá em Diversas Culturas e Religiões
Obatalá, figura central na religião Yorubá e disseminada pela Santeria e outras práticas afro-brasileiras, é venerado e conhecido por diversos nomes e títulos, que refletem sua diversidade e a riqueza de seu culto. Abaixo, seguem alguns dos nomes e epítetos com os quais Obatalá é conhecido em diferentes culturas e religiões, destacando sua universalidade e profundidade espiritual:
- Orishanlá: Em Yorubá, Obatalá é frequentemente chamado de Orishanlá, que significa “Grande Orixá”, ressaltando sua importância como criador.
- Baba Arugbo: Este título, que significa “Pai Ancião”, reflete a sabedoria e autoridade paternal de Obatalá, sublinhando seu papel como guia espiritual.
- Oluorogbo: Em algumas tradições, Obatalá é conhecido como Oluorogbo, destacando sua conexão com a pureza e seu papel na proteção contra o mal e a injustiça.
- Oba T’Ala: Este nome, que significa “Rei da Pureza” em Yorubá, enfatiza a essência pura de Obatalá e sua autoridade sobre os aspectos puros da existência.
- Oxalá: No Brasil, dentro do Candomblé e da Umbanda, Obatalá é sincretizado e venerado como Oxalá, representando a criação, a paz e a pureza, sendo considerado o pai de todos os orixás e da humanidade.
- Obanla: Este epíteto, que significa “Grande Rei”, destaca a majestade e preeminência de Obatalá como líder espiritual.
- Oshagriñán: Este nome sublinha o aspecto guerreiro e protetor de Obatalá, lembrando sua disposição em combater a injustiça e proteger seus seguidores.
- Alabalashe: Significa “Aquele que possui a autoridade para criar”, enfatizando o poder criador de Obatalá e sua função como arquiteto da humanidade.
Cada um desses nomes e títulos reflete diferentes facetas de Obatalá, desde sua sabedoria e compaixão até seu poder criador e autoridade divina. Por meio desses epítetos, os devotos podem se conectar pessoalmente com Obatalá, reconhecendo sua importância universal na espiritualidade afrodescendente.
Características de Obatalá: A Essência da Pureza
Obatalá se destaca como a divindade Yorubá que encarna a mais elevada pureza, simbolizando a concepção moral suprema. Este Orixá é o pilar dos princípios éticos universais, abrangendo justiça, equilíbrio e equidade, além de estender seus valores culturais e artísticos, refletindo sua influência na beleza, cultura artística e refinamento.
Atributos e Simbolismo
Símbolos e Ferramentas Sagradas
A sopeira de Obatalá, seu receptáculo sagrado, brilha em branco, adornada com uma coroa de prata e penas de papagaio, simbolizando sua autoridade celestial. Este Orixá carrega objetos de poder, como o sol e a lua, manilhas, uma serpente representando a transformação e uma mão de prata que segura um cetro, todos elementos que consolidam sua soberania divina.
Cores e Vestimentas
O branco predomina como a cor essencial de Obatalá, aparecendo em seu colar e pulseira (ilde). Embora esteja primariamente associado a essa cor, algumas representações mostram-no em papéis guerreiros, adornado com faixas vermelhas ou tonalidades roxas e verdes, conforme o caminho que ele represente, como Obamoro ou Alaguema.
Expressões Culturais
Dança Sagrada
A dança de Obatalá, expressão de veneração e conexão espiritual, varia de movimentos serenos que imitam a sabedoria de um ancião até danças energéticas, como as de Obatalá Ayaguna, onde se simulam ações de batalha e proteção.
Festividades e Números
A celebração de Obatalá acontece no 24 de setembro, um dia que encapsula o sincretismo e a devoção a esse Orixá. O número 8 e seus múltiplos são números sagrados, marcando rituais e práticas devocionais.
Ervas Sagradas (Ewe) de Obatalá
Obatalá é associado a várias ervas sagradas, cada uma escolhida por suas propriedades espirituais e curativas. Entre elas, destacam-se o bledo branco, atiponlá e a dormideira, que são importantes em rituais e oferendas, sublinhando a profunda conexão de Orishanlá com o reino natural e seu papel como curador e protetor.
Oferendas e Adimuses para Obatalá
Na Santeria, honrar Obatalá envolve a preparação e oferta de adimus (ofertas) específicas que ressoam com sua essência pura. Entre elas, incluem-se:
- Alimentos brancos e puros: Inhame, leite, manteiga de cacau, cascarilla, algodão e mel são algumas das ofertas favoritas.
- Frutas e vegetais brancos: A graviola, o anão, a romã, o sapoti e qualquer fruta ou vegetal branco são especialmente apreciados por Obatalá.
- Água e elementos de pureza: Água fresca ou água de coco, acompanhadas de velas e flores brancas, simbolizam limpeza e pureza.
Gastronomia em Homenagem a Obatalá
Os devotos preparam uma variedade de pratos sem sal para agradar a Obatalá, refletindo sua preferência pelo puro e natural:
- Pratos Principais: Incluem arroz branco em suas diversas formas, torres de suspiro, natilla de leite e champola de graviola.
Sacrifícios Animais: São oferecidos animais de cor branca, como cabras, pombas, galos, galinhas e codornas, simbolizando a inocência e a pureza.
Tabus e Proibições
A devoção a Obatalá também implica em seguir algumas restrições e evitar:
- Alimentos e Substâncias Proibidas: O vinho de palma, a cerveja de milho, o óleo de palma vermelho, pimenta, sal e melão, além das carnes vermelhas e qualquer alimento que contrarie a pureza.
Restrições de Cor e Material: Tecidos de cor preta, água podre e certos animais como o cachorro e o porco são proibidos em seu culto.
Considerações Especiais: Durante o período menstrual, as mulheres devem se abster de manipular os objetos de Obatalá, e máscaras não devem ser colocadas em seu altar, para manter a serenidade e o respeito pela sua santidade.
Pataki: A Maldição de Obatalá sobre o Palo Mayombe
Em um episódio importante de sua história, Obatalá, movido pelas tensões e conflitos causados pelas guerras e bruxarias praticadas por Ogun e Xangô com os feitiços dos Congos, decide intervir. Essas práticas sombrias aconteciam na terra Congo, que fazia fronteira com a terra Yorubá, perturbando a paz e a harmonia da região.
A Intervenção de Obatalá
Os Yorubás, profundamente afetados pelas consequências mortais dessas ações, recorreram a Obatalá em busca de uma solução. Ao entender a gravidade do problema, Obatalá, com a ajuda de Baba e Ossain (Ozain), amaldiçoa Ogun e a prática do Palo Mayombe, tentando restaurar o equilíbrio e proteger seu povo.
Apesar da maldição imposta, as mortes continuaram, o que levou à intervenção de Odi Bara. Este, junto com Ossain, agiu para parar Ogun e os praticantes da bruxaria, oferecendo a Orishanlá o iwereyeye para liberá-lo da maldição que havia pronunciado, restaurando sua capacidade de abençoar e proteger seus seguidores.
Obatalá e seu Sincretismo na Religião Católica
O sincretismo religioso, fenômeno onde elementos de diversas tradições espirituais se fundem e reinterpretam, coloca Obatalá sob uma luz única dentro da religião católica. Este Orixá é sincretizado não só com Jesus crucificado e São Manuel, mas, de maneira mais marcante, com Nossa Senhora das Mercês, também conhecida como a Virgem da Merced ou Virgem da Misericórdia.
A Fusão do Masculino e do Feminino
É fascinante como Obatalá, uma divindade primordialmente masculina, é associada a uma figura feminina central como a Virgem das Mercês. Esse vínculo pode ser observado na iconografia compartilhada: ambos aparecem em um branco imaculado, desde o hábito mercedário da Virgem até o asho funfun de Orishanlá, que simboliza seu domínio sobre a pureza e a proteção divina.
O Manto de Proteção
A semelhança entre o manto de Obatalá e a capa da Virgem das Mercês simboliza uma proteção universal. Ambos cobrem e protegem seus fiéis e outras divindades ou santos, oferecendo abrigo e segurança. Esse paralelismo se estende ao seu papel como protetores dos oprimidos e cativos, refletindo a missão da ordem mercedária fundada em honra à Virgem das Mercês.
A Conexão entre Obatalá e os Africanos nas Américas
A relação entre Obatalá e a Virgem das Mercês ganha uma dimensão ainda mais profunda entre os africanos trazidos para as Américas. A veneração a Obatalá, como símbolo de justiça e proteção, encontrou paralelismo na devoção à Virgem das Mercês, vista como uma aliada divina em tempos de cativeiro e sofrimento.
Essa conexão espiritual reforça o sincretismo como um elo entre culturas e crenças, oferecendo consolo e esperança a aqueles distantes de sua terra natal.
Virtudes Compartilhadas e Simbolismo
Obatalá, reverenciado por sua sabedoria, pureza e justiça, compartilha várias virtudes com a Virgem Maria, especialmente na sua invocação como Nossa Senhora das Mercês. A paz, qualidade essencialmente associada a Obatalá, encontra ressonância na figura da Virgem, também chamada Rainha da Paz.
Além do mais, elementos como a coroa prateada e o cetro de poder sublinham um simbolismo de autoridade celestial e proteção divina compartilhado por ambas as figuras.
Reflexões e Ensinamentos de Obatalá
Obatalá, como figura paternal e guia espiritual na Santeria e na religião Yoruba, compartilha sabedoria que ilumina o caminho de seus devotos. Suas palavras são faróis de luz na busca pela verdade, honestidade e lealdade. Aqui estão algumas de suas reflexões mais profundas:
O Eco das Preces
“Os ancestrais sempre ouvirão suas preces, assim como você sempre deve seguir o caminho que seu destino traçou.”
Esta frase destaca a conexão eterna com os ancestrais e a importância de abraçar o destino que nos foi dado, lembrando-nos que nunca estamos sozinhos em nossa jornada.
A Honestidade diante do Divino
“Quem se esconde para disparar uma flecha deve saber que, mesmo quando ninguém o vê, seu ato será revelado abertamente aos deuses. Seja sempre honesto. Seja sempre leal.”
Obatalá nos lembra que nossas ações, visíveis ou não aos olhos humanos, são sempre transparentes diante do divino. A honestidade e a lealdade são pilares fundamentais na vida daqueles que buscam harmonia e a bênção dos Orixás.
Encarnando a Bondade Divina
“Ele (Obatalá) deveria agir como se fosse a encarnação dos próprios desejos de Olodumare em termos de bondade, ao tratar com homens e divindades.”
Este ensinamento sublinha o papel de Obatalá como manifestação da bondade divina de Olodumare, o supremo criador, enfatizando sua responsabilidade de guiar tanto mortais quanto deidades para a bondade e a justiça.
Perguntas Frequentes
Qual é a origem de Obatalá?
Obatalá é filho de Olofin e Olodumare, as principais divindades da religião Yorubá. Foi encarregado da criação da Terra e dos seres humanos, embora tenha compartilhado essa tarefa com Oduduwa devido a um incidente.
O que simboliza Obatalá?
Obatalá simboliza a pureza, a clareza, a paz e a moralidade. Representa a justiça e a bondade, sendo associado à luz e a todos os aspectos puros e pacíficos da existência.
Como Obatalá é representado no culto Yorubá?
Obatalá é frequentemente representado de branco, simbolizando sua pureza. Seus altares e seus seguidores utilizam vestes brancas em sua homenagem, e suas oferendas incluem elementos brancos como cascarilla, algodão, leite e coco.
Quais são as oferendas preferidas de Obatalá?
As oferendas a Obatalá incluem alimentos brancos e puros, como inhame, leite, arroz, entre outros. Também podem ser oferecidas velas brancas, flores brancas e água fresca ou água de coco.
Existem tabus ou proibições específicas no culto a Obatalá?
Sim, devem ser evitadas oferendas que não sejam brancas, assim como o álcool e o sangue, pois Obatalá é o Orixá da pureza. Além do mais, certas festividades e práticas exigem a abstenção de comportamentos impuros ou conflituosos.
Qual dia é dedicado a Obatalá?
O dia dedicado à veneração de Obatalá é, tipicamente, o 24 de setembro, embora as datas possam variar conforme a tradição local ou o linhagem religiosa específica.
Como começar o culto a Obatalá?
O culto a Obatalá, assim como o de outros Orixás, começa com o respeito e a observância de seus rituais e oferendas. É importante consultar um sacerdote ou sacerdotisa da Santeria para receber a orientação adequada.
Obatalá tem sincretismo com santos católicos?
Sim, Obatalá é sincretizado com várias figuras católicas, principalmente com Nossa Senhora das Mercês. Isso reflete a integração de crenças e práticas religiosas entre as tradições Yorubá e o catolicismo.
Quais lições ou ensinamentos Obatalá nos oferece?
Obatalá ensina a importância da pureza de coração, da paciência, da justiça e da compaixão. Nos lembra da necessidade de manter a paz e a clareza em nossas vidas e em nossos relacionamentos com os outros.
Conclusão
- Obatalá como origem divina: Obatalá é uma divindade da criação, inicialmente encarregado de moldar os seres humanos, destacando seu papel fundamental dentro da espiritualidade Yorubá e da Santeria.
- Figura de pureza e justiça: Sua representação como “Rei da Pureza” e sua ligação com a justiça demonstram sua importância como pilar moral e espiritual para seus seguidores.
- Influência protetora: Obatalá oferece proteção àqueles em necessidade, especialmente a pessoas com características físicas anormais e mulheres inférteis, refletindo sua compaixão e cuidado.
- Respeito e devoção em seu culto: As práticas devocionais para Obatalá, incluindo oferendas específicas e adesão a tabus, refletem o profundo respeito e veneração que seus fiéis lhe dedicam.
- Simbolismo em vestimentas e expressões culturais: Através de suas cores, vestimentas e dança sagrada, Obatalá comunica sua essência e mensagens, reforçando sua conexão com os devotos.
- Sincretismo religioso: A identificação de Obatalá com figuras católicas, como Nossa Senhora das Mercês, ilustra sua relevância transcultural e sua capacidade de unir diferentes tradições espirituais.
- Legado de sabedoria e guia: Os ensinamentos de Obatalá ressaltam a importância da honestidade, lealdade e do seguimento do destino, atuando como guia moral para a humanidade.
- Impacto transcendental: A influência de Orishanlá vai além da religião Yorubá, oferecendo esperança, proteção e orientação por meio de gerações e culturas.
Referências
- De Sousa Hernández, Adrián. (2005). Los Orichas en África. Una aproximación a nuestra identidad. Editorial De Ciencias Sociales.
- Dos Santos Juana. (2002). Os Nago e a Morte. Editora Vozes.
- Caudillo Diane Elizabeth. (2007). Prayers to the Orishas a look at Santeria.
- Ifa Orilana Aworeni Odumola Sowunmi. (2009). La naturaleza de los Orisas. Rosebud Ediciones.
- Ócha’ni Lele. (2012). Sacrificial Ceremonies of Santería: A Complete Guide to the Rituals and Practices. Editorial Destiny Books.
- Shangó Omo Asa. (2021). El poder de Orisha. Publicación independiente.
- Silva, Mari. (2021). Orishas: La guía definitiva de las deidades africanas orishas y su presencia en el yoruba, la santería, el vudú y el hudú, con una explicación de la adivinación del dilogún.
Apaixonada pela cultura Yorubá e Bantu. Minha jornada é dedicada à exploração da espiritualidade ancestral, mergulhando nas ricas tradições dos Orixás e na sabedoria que conecta nosso passado ao presente. O Templo Lukumi é meu espaço para compartilhar insights sobre mitologia, rituais e a influência contínua dessas tradições em nossa vida moderna.