Aganjú é o Orixá do vulcão, controlador do fogo, do magma, da terra e dos desertos. Este ser divino e poderoso carrega sobre seus ombros as crianças e seus devotos, guiando-os com passos largos pelas adversidades. Aganjú Sola é o bastão bendito, a personificação da força e do poder.
Ele representa a força bruta e o poder do fogo, manifestado nos raios solares, no deserto abrasador e na capacidade de ver a distância e observar toda a extensão da terra. O vulcão encarna sua força, com sua lava surgindo do centro da terra, gerando um movimento constante que faz o mundo girar.
Essa lava arrasa e destrói, mas também transforma, preparando o terreno para novos ciclos de renascimento e manutenção da vida.
Essa divindade representa a dualidade da existência, sendo ao mesmo tempo vida e destruição. Contudo, é fundamental compreender essa dualidade de uma perspectiva mística, conectada com sua essência natural.
Quem é Aganjú Sola?
Aganjú Solá é considerado um Orixá maior. Seu nome pode ser traduzido como: tudo o que seus olhos alcançam, seja bom ou ruim. Existe, porém, outra interpretação a partir do termo Yorubá “Aginjù Solá”, que se traduz como: Aginjù = deserto / So = voz / Àlá = cobrir, interpretando-se literalmente como: “O que cobre o deserto com sua voz.”
Esse Orixá representa tudo o que surge e é visto, como faz o cometa e o vulcão. Conta-se que ele é filho de Oroiña (a voz do vulcão e das entranhas da terra) e de Olofin. Ele é o Orixá da terra seca, dos desertos e dos rios revoltos.
Seu culto tem origem nas terras de Arará e Fon, sendo também o padroeiro da cidade de Havana, em Cuba. Seus símbolos são o vulcão e o sol. Ele é visto como a força que impede o bochorno dos iworos (santeros).
Sua energia é tamanha que também se relaciona com as forças terrenas: a potência dos rios que dividem territórios, a lava que queima e invade a crosta terrestre, os terremotos e até o impulso que faz a terra girar eternamente.
No mistério profundo, Aganjú se ergue como um Orixá que escolhe a solidão como sua aliada, pois esta é sua essência. No entanto, sua ação se estende a todos os cantos do universo, manifestando-se através do calor abrasador do sol.
Seus raios fortalecem o crescimento das plantações, mas também podem ser uma vingança ardente que consome e castiga aqueles que praticam atos errados. De forma similar, Aganjú Sola é comparado a um vulcão em erupção, cuja lava escorre, esculpindo novas paisagens nas encostas e campos, criando formas topográficas inimitáveis.
Além de sua jornada solo, Aganjú também colabora em harmonia com outros Orixás. Diz-se que ele é o bastão de Osha, o apoio firme e constante de Obatalá, sendo sua coluna vertebral no mundo espiritual.
Mas ele também é um protetor das crianças, carregando-as sobre seus ombros e guiando-as por longos caminhos e rios misteriosos, oferecendo proteção e orientação em cada passo de sua jornada.
Na dança cósmica da vida, Aganjú se revela como um ser imponente e enigmático, tecendo fios de solidão e colaboração, fogo e lava, força e ternura. Sua essência transcende os limites da compreensão humana, convidando-nos a mergulhar em seu misticismo e descobrir a magia que reside em seu ser.
Ele é o Báculo Sagrado, que é recebido como bastão e reforço para a saúde. Cuida dos transportadores e motoristas. Sua manifestação no corpo pode ser vista por meio da pressão sanguínea e das altas temperaturas. Diz-se que ele se refugia na palma da mão, especialmente em momentos de dificuldades.
Relâmpago torcido que intimida e funde furiosamente. A montanha que é um Orixá. A montanha que é um Orixá, Aganjú estende a boa saúde. Aganjú volta ao lado e desaparece perdido, gira e desaparece perdido. Aganjú faz a riqueza, saudado como rei. Quem aquece a comida, atuando exclusivamente, lhe saúda.
Aganjú e Xangô
Aganjú faz parte da linhagem de Xangô, que foi o terceiro alaafin (Rei) de Oyo. Considera-se que eles sejam irmãos gêmeos, mas devido ao medo de serem vistos como uma anomalia, foram separados ao nascer, pois na época, a sociedade Yorubá via isso como um mau presságio.
Conta-se que Aganjú Sola foi enviado a viver com um tio-avô, enquanto Xangô permaneceu em Oyo e eventualmente assumiu a liderança como alaafin, depôs seu irmão mais velho Ajaka, que não possuía as qualidades necessárias para governar com firmeza.
Após a morte de Xangô, Oyá espalhou o boato de que o rei não havia falecido (Xangô Obá Kossô) e seus seguidores procuraram Aganjú, que sendo seu gêmeo, compartilhava muitas características físicas com o falecido rei. Assim, ele se tornou o quinto alaafin de Oyo.
A partir daí, o culto a Xangô foi consolidado, e Aganjú foi considerado como a própria encarnação de Xangô que retornou dos mortos para continuar seu reinado. Tudo se encaixava, pois Aganjú havia adquirido conhecimento sobre o manuseio da pólvora na cidade de Tapá, onde morava com seu tio-avô.
Esse aspecto, aliado à grande admiração do povo, levou a considerá-lo um vulcão em si, senhor das explosões e do fogo, assim como seu gêmeo Xangô, também reconhecido por suas explosões e pelo fogo, além de ser investido da divindade Yakuta (Jakuta).
Nesta história cheia de misticismo, os laços familiares, a transcendência da vida após a morte e a continuidade divina se entrelaçam em uma dança sagrada. Aganjú e Xangô, irmãos unidos pelo sangue e pelo destino, continuam a reinar no coração e na adoração de todos aqueles que reconhecem seu poder e grandeza no mundo espiritual.
Características do Orixá Aganjú
Entre suas características, destaca-se um temperamento conflitante e irado. Ele representa a política, os lugares elevados, as montanhas, os picos, os lugares remotos e inacessíveis, a terra, as lutas, os obstáculos e contratempos, a má sorte, as vitórias sobressalentes, a decadência, a noite, o tempo, a velhice, as deformações, o inverno, o frio, as minas, o dever social e as aspirações profissionais.
Atributos e Ferramentas
Seu receptáculo é um recipiente de madeira ou barro decorado com nove cores. Entre suas ferramentas estão: uma flecha, um cajado e um tridente. Se ele for o anjo da guarda do iniciado, coloca-se nove peças entre as quais se destacam: uma flecha, um cajado, um tridente, um arco e flecha, uma estrela cometa com sua cauda, uma machadinha, uma lança, um machado e uma chave, que acompanham seu ota ou fundamento.
O traje de Aganjú
Esse traje é composto por calças e jaquetas de cor vermelha escura ou vinho. Na cintura se prendem panos ou tiras de várias cores. Ele usa um turbante na cabeça e carrega um bastão de bambu com fitas de nove cores.
O número de Aganjú é o 9 e seus múltiplos. Seus dias são as quartas-feiras e o 16 de cada mês. Sua celebração alegórica, herdada do sincretismo, é comemorada no 25 de julho.
Cores de Aganjú
Sua cor básica é o marrom, acompanhado de nove cores (exceto o preto). Seus colares são de cor cacau, matipó e pérola, com contas intercaladas nas cores azul turquesa, vermelho, amarelo e verde. Isso pode variar conforme a linha de sua casa de santo.
Dança de Aganjú
A dança em homenagem a esse Orixá é caracterizada por passos largos e a elevação dos pés, como se estivesse atravessando obstáculos. Durante a dança, ele carrega as crianças sobre seus ombros e se move com grande força e energia.
História de Aganjú e o pacto com Xangô e Oxum
Xangô viajava tranquilamente por todos os povos da terra, mas nunca podia se aproximar de uma terra que tremia e estalava, sempre coberta por gases incandescentes. Por isso, ele foi à casa de Orunmilá, que fez uma adivinhação, vendo este Odu, e realizou os sacrifícios necessários. O Ebó deveria ser levado até a beira de um rio, e Xangô fez isso rigorosamente.
Ao chegar ao rio, encontrou Exu, que lhe explicou que do outro lado havia uma aldeia onde o rei falava de longe e nunca se mostrava. Intrigado, Xangô perguntou a Exu como era possível ter um rei assim. Exu explicou que o rei vinha à beira do rio no final da tarde, sendo Oshun a única pessoa daquele lugar que tinha contato com ele.
Quando Xangô atravessou o rio, viu uma mulher correndo e um homem alto e forte, que se mergulhou na água. Depois, a mulher começou a derramar água na cabeça dele para refrescá-lo. Ao ser notado, perguntaram o que ele desejava. Aganjú usou uma palma para atravessar Xangô até a outra margem.
Ao chegarem à aldeia, Xangô viu que o povo estava desordenado e que Aganjú não se aproximava de ninguém. Decidido a entender, Xangô entrou na casa de Aganjú e, para surpresa dele, passou pela lava sem se queimar. Ao explicar sua intenção de ajudar o povo, Aganjú fez um pacto com Xangô, envolvendo também Oxum, reconhecendo-lhe o direito de governar.
Para selar o pacto, Aganjú serviu dois galos, uma galinha e pintou linhas em sua cabeça. Xangô, por sua vez, fez a mesma oferenda. Assim, ficou conhecido que, quando o vulcão entra em erupção, primeiro sai o fogo (de Xangô) e depois a lava (de Aganjú).
Pataki de Aganjú Sola (A guerra entre Aganjú e Obatalá)
Aganjú estava em conflito com Obatalá porque queria impedir que Olofin concedesse a este último o poder sobre todas as cabeças. A condição imposta por Deus era encontrar um axé valioso, que consistia em algumas eyele (pombas) que faziam ninho nos telhados de certas casas.
Obatalá decidiu buscar a ajuda de Yemanjá para capturar as eyele. Surpresa, Yemanjá lhe perguntou: “Por que você precisa da minha ajuda?”. Obatalá respondeu: “Aganjú encheu o caminho de serpentes”. Yemanjá respondeu que não poderia ajudá-lo, mas sugeriu que procurasse Orunmilá, que poderia resolver seu problema.
Obatalá se despediu de Yemanjá e foi até a casa de Orunmilá. Quando soube do problema, Orunmilá lhe disse para procurar Xangô, que o ajudaria a subir no telhado e pegar as eyele.
Quando Obatalá encontrou Xangô, explicou que vinha em nome de Orunmilá e precisava que ele pegasse as eyele no telhado.
Xangô aceitou e se dirigiu à casa indicada por Obatalá, mas não conseguiu avançar devido às serpentes que bloqueavam o caminho. Subiu em uma árvore e viu Aganjú em outra árvore próxima. Ao descer, Xangô se aproximou de Baba e disse: “Não consigo pegar as eyele porque estão vigiadas.
Melhor você procurar Eleguá, ele vai te ajudar”. Assim, Orishanlá se despediu de Xangô e foi em busca de Eleguá. Quando encontrou Eleguá, perguntou: “Você poderia me ajudar a pegar as eyele no telhado?”. Eleguá respondeu com um sorriso: “Com muito prazer”. Depois de entender a situação em detalhes, preparou um saco cheio de alimentos e foi espalhando pelo caminho para afastar as serpentes.
Dessa forma, Obatalá conseguiu seguir sem ser incomodado, enquanto Eleguá cantava: “Exu Barago Ago Moyubara”.
Finalmente, Obatalá chegou ao local onde Aganjú estava escondido em um arbusto e lhe disse: “Soube que você quer armar uma armadilha para Obatalá, e estou aqui para ajudar”. Aganjú perguntou que tipo de ajuda ele oferecia, e Eleguá respondeu: “Posso bloquear os caminhos de Obatalá”. Aganjú desceu do arbusto e aceitou a ajuda, tornando-se parceiro de Eleguá.
Eleguá tirou uma garrafa de licor e o convidou para beber, celebrando a aliança. Ambos beberam até que Aganjú ficou completamente bêbado, e Eleguá o deixou ali. Depois, correu até a casa onde estavam as eyele no telhado, mas não conseguiu subir.
Nesse momento, ouviu Xangô se aproximando e cantando. Eleguá gritou para Xangô, que se aproximou da casa. Xangô perguntou o que estava acontecendo, e Eleguá explicou que não conseguia subir no telhado para pegar as eyele que Obatalá precisava.
Xangô escalou facilmente a parede e pegou as eyele. Enquanto isso, Baba se aproximava pelo caminho, e os três foram até Olofin. Quando Olofin viu Obatalá com as eyele, disse: “Obatalá, eu te faço senhor de todas as cabeças”. Em seguida, se dirigiu a Eleguá e lhe concedeu o poder de abrir os caminhos.
Essa história nos ensina a importância da colaboração e da busca por soluções criativas em momentos de dificuldade. Embora Aganjú e Obatalá estivessem inicialmente em conflito, ambos conseguiram superar seus problemas ao unir forças com outros Orixás.
Como são os filhos de Aganjú Sola?
Os filhos de Aganjú costumam ser muito aspirantes a ocupar grandes cargos e posições, às vezes chegando a ser ambiciosos. Em seu melhor aspecto, podem ser decididos, precavidos, comedidos, perseverantes, discretos e concentrados.
Quando mal aspectados, podem se destacar por serem mentirosos, iludidos, pessimistas, fatalistas, depressivos, reprimidos, atontados, mal-humorados, rancorosos, com um caráter frio e distante, sem atenção aos outros, egoístas, imaturos, com uma exagerada valorização do sucesso social, mas sem buscar esse sucesso da forma correta, e bastante dominantes.
Nomes de santo para filhos de Aganjú
- Sholá Nike: O filho mimado de Aganjú.
- Addenican: A coroa de fogo.
- Oba Tola: O castelo do Rei Aganjú.
- Ocan Nike Yola: O brilho do coração do vulcão.
- Adde Yola: A coroa do vulcão.
- Adde Sholá: A coroa de Aganjú.
- Inu Yola: A voz do vulcão.
- Oba Ican Yola: O rei do vulcão e a chama.
- Sholá Funke: O bastão de Aganjú.
Como se consagra ou se recebe Aganjú na Santeria?
Para começar, o mais recomendável é que todo filho de Aganjú Sola, antes de sua consagração, receba os fundamentos dos Orixás Oroiña e Aina, ou, ao menos, o façam o mais rápido possível após a consagração.
A consagração dos filhos desta Deidade é bastante controversa. Alguns dizem que é muito complicado realizá-la diretamente, pois suas cerimônias prévias são de grande complexidade e muitos de seus segredos se perderam ao longo do tempo.
No entanto, algumas casas de santo afirmam ter o conhecimento necessário para realizar essa consagração. Outras vertentes, principalmente as provenientes de práticas cubanas, costumam coroar Xangô ou Oxum com oro para Aganjú, mantendo o cuidado necessário nas diversas cerimônias prévias para essa consagração.
Como atender ao Orixá Aganjú? Adimu e Oferendas
Na Santeria, Aganjú pode ser agraciado com nove biscoitos untados com azeite de dendê de um lado e manteiga de cacau do outro.
Também se oferece vinho tinto, berinjelas, palanquetas de milho tostado, bolas de inhame, bolas de banana, fufu, arroz pintado de amarelo com carne e alpiste, torrejas com óleo de corojo e mel, carne de boi guisada com quiabo, espinafre, carne de boi guisada com vegetais, biscoitos salgados, abacates roxos, milho verde com camarões (como um tamal), quiabo sem sementes e salada do bispo, tomate de árvore em rodelas, além de todas as frutas e hortaliças que vêm do interior da terra.
Os animais que podem ser sacrificados para Aganjú são: boi, cabra, galo, pomba, codornas e galinha.
O que se pede a Aganjú Sola?
Como patrono do interior da terra e das correntes dos rios, pede-se a Aganjú por nossa salvação quando estamos expostos a condições climáticas adversas e sob a força incontrolável da natureza (terremotos, maremotos, entre outros).
Também é apropriado pedir-lhe nos casos em que nossa reputação esteja em jogo, pois ele é o Orixá que nos protege do constrangimento. Sua força é considerável, o que o torna a divindade adequada para nos sustentar em situações difíceis de resolver, sendo conhecido como o bastão da Osha.
Por ser o patrono dos caminhantes, porteiros, motoristas, motoristas de ônibus e aviadores, pede-se a Aganjú para que, ao caminhar pelos caminhos, tudo transcorra corretamente, e para que cheguemos ao nosso destino de forma segura durante longas viagens.
Quem é Aganjú na religião católica? (Sincretismo)
Aganjú, na religião católica, é sincretizado com São Cristóvão. Esta espiritualidade representa um mártir que foi assassinado durante o reinado do imperador romano Décio.
Sua lenda é bastante controversa, com alguns sugerindo que sua história tenha origem na mitologia grega, associando-o à barca de Caronte.
De qualquer forma, a história de São Cristóvão diz que ele carregou um desconhecido sobre seus ombros, ajudando-o a atravessar um rio. Após esse ato desinteressado, o desconhecido revelou ser Cristo.
Outra história relacionada a São Cristóvão é o martírio de São Menas. Alguns estudiosos até consideram que ambos os santos seriam a mesma pessoa. O nome Cristóvão significa “portador de Cristo”, título que também foi atribuído a Menas.
A forma como São Cristóvão é representado é bastante simbólica, geralmente carregando uma criança nos ombros no meio de um rio turbulento, segurando uma palma real – elementos que refletem perfeitamente a simbologia de Aganjú Sola.
Isso explica por que os praticantes das culturas afrodescendentes, ao chegarem a Cuba, o sincretizaram com essa espiritualidade.
Frases de Aganjú
Aganjú diz: “A um filho de Aganjú sempre lhe sobrará força para lutar e vontade de triunfar.”
Aganjú diz: “Enquanto eu estiver contigo, ninguém te fará passar vergonha e sairá ileso de sua ofensa.”
Apaixonada pela cultura Yorubá e Bantu. Minha jornada é dedicada à exploração da espiritualidade ancestral, mergulhando nas ricas tradições dos Orixás e na sabedoria que conecta nosso passado ao presente. O Templo Lukumi é meu espaço para compartilhar insights sobre mitologia, rituais e a influência contínua dessas tradições em nossa vida moderna.