Falar de Olofin, Olorun e Olodumare é falar da energia vital inicial. Trata-se da identidade de Deus, o ser superior principal, único e fundamental para a existência. A manifestação do Deus supremo dentro da Santeria, a regra de Osha e Ifá, e de todas as práticas religiosas que descendem da cultura Yorubá. Portanto, sua figura goza de um respeito indiscutível, herdado por todos os iniciados nessas crenças, de geração em geração até os dias atuais.
Que relação têm Olofin, Olorun e Olodumare?
É necessário estabelecer que Olodumare é Deus. Porém, para a filosofia Yorubá, esse Ser Supremo tem três manifestações conhecidas como: Olodumare, Olorun e Olofin.
Alguns analistas da Santeria em Cuba tentaram relacionar essa trilogia com a Santíssima Trindade da religião católica, que contempla um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito Santo; são três pessoas, mas uma mesma essência. Através dessa comparação, tentam compreender a perspectiva do praticante da religião Yorubá sobre esse tema.
No entanto, nesse sentido, a visão Yorubá do universo e da espiritualidade não se assemelha à cristã. Os yorubás acreditam que Deus se transfigura ou se manifesta de três formas:
- Olodumare é a manifestação material e espiritual, pois é Deus em sua fase como criador, o que dá vida a tudo o que existe. Não se assenta e não possui fundamentos que possam ser compreendidos pelos homens.
- Olorun é a manifestação de Deus que emana a energia intangível e sublime que permite a existência e a continuidade da vida. Por conta dessa característica, diz-se que sua representação material é o astro Sol, responsável por fornecer a energia essencial para a vida na Terra.
- Olofin é um termo usado pelos yorubás para denotar um grande título honorífico, referindo-se ao rei. Através dessa manifestação, Deus se torna mais próximo dos Orixás e, consequentemente, dos humanos.
Quem é Olodumare?
Olodumare é um ser Todo-Poderoso, é o único Deus na religião Yorubá. Ele é a força e o responsável pela criação do universo e de tudo o que o compõe. A sua soberania deve-se a tudo o que existe, portanto, seu poder é supremo e onipotente.
Nas crenças da religião Yorubá, seus seguidores consideram que não existe nada anterior e, muito menos, superior a Olodumare. Sua existência é eterna, e essa filosofia constitui a base de sua fundamentação espiritual, sendo aceita sem qualquer tipo de questionamento.
Baseando-se nessa definição de Olodumare, entende-se que de seu Axé emana todo ser vivente, o que inclui, sem dúvida, os Orixás e ancestrais, estabelecendo uma espécie de hierarquia que considera os seres humanos como criaturas criadas para o serviço dos seres superiores, estabelecendo na Santeria um marcado respeito à ancestralidade entre as diferentes existências.
Significado
A magnificência do poder ou o próprio significado de Olodumare é muito difícil de descrever com apenas uma palavra. No entanto, o yorubá primitivo sempre buscou maneiras de exaltar sua importância. Seu nome, Olodumare, é traduzido como “o Senhor para onde vai nosso destino eterno”.
Por outro lado, alguns estudiosos dessa prática religiosa interpretam que a palavra Olodumare é composta por diversos vocábulos que são traduzidos como: O = quem; lo: que tem, que é dono; odu: posição, relacionada à adivinhação; ma: prolongação, sequência; are: primeiro em hierarquia, máxima hierarquia.
Em conclusão, considera-se que significa: “quem é o dono da posição e dono da adivinhação de Ifá e de tudo que existe acima de tudo”. Além do mais, os Yorubás podem utilizar outros nomes para se referir a Olodumare:
- Alorun Alaaye: Significa que é um Deus que vive, que existe, ou o Deus vivente.
- Alaayé: Refere-se à virtude da qual emana o fluido vital. Olodumare como ser sempre vivo, supremo e que nunca poderia perecer.
- Elemií: Com este termo destaca-se o poder de Olodumare como dono da vida, pois todos os seres que vivem, tanto no plano terreno quanto no plano espiritual, devem isso a Ele. Também se refere ao processo de respiração como ação fundamental para viver no mundo físico. Na cultura Yorubá, diz-se que quando o Elemií toma a respiração de um ser vivo, este morre.
- Eledá: Com este termo quer-se destacar o poder criador de Olodumare. A tradução afirma que se refere ao Ser Supremo responsável por toda a criação. Também indica que sua própria existência é a fonte de todas as coisas.
- Olojo Oni: Faz referência à altíssima hierarquia que possui Olodumare e seu poder para controlar a vida ou a luz.
Características
Ficou estabelecido que Olodumare é o Deus supremo dentro da religião Yorubá. Entre suas características fundamentais destaca-se:
- Criador universal: Graças à sua existência, a nossa é possível. Ele é a origem de tudo.
- Entidade eterna: Sua imortalidade é reconhecida como um de seus maiores atributos. Podemos evidenciá-la através de diversas passagens de Ifá. Uma frase típica dessa qualidade exclama: “A kì ígbó ikú”, que significa: nunca ouvimos falar da morte de Olodumare ou da grande pedra impenetrável que nunca morre.
- Todo-Poderoso: Estima-se que o que não foi aprovado por Olodumare jamais poderá ser realizado.
- Poder inimaginável: É por isso que não existem estátuas ou imagens de Olodumare dentro da Santeria, pois, sendo tão magnífico e poderoso, é impossível para o ser humano sequer imaginá-lo, e muito menos criar o molde correto que o descreva.
Olodumare na Nigéria
Para compreender a verdadeira essência de Olodumare, é necessário entender como os yorubás primitivos o veem, uma vez que têm existido múltiplas interpretações errôneas dessa divindade ao longo do tempo.
Alguns estudiosos das tradições afrocubanas indicam que a Olodumare não se oferecem sacrifícios como aos Orixás, que não possui ritos específicos, que não tem símbolos, imagens ou templos, e que não se pede sua ajuda diretamente; de fato, há quem afirme que dele só se conhece o nome.
No entanto, ao analisar as escrituras do corpo literário de Ifá, podemos encontrar alguns trechos que contradizem diretamente algumas dessas crenças. Um exemplo disso pode ser visto através do Odu de Ifá: Iwori Obara. Nesse signo, afirma-se que a Olodumare sim se oferecem sacrifícios, conforme relata a seguinte história:
Iwori Obara realizou adivinhação para quatrocentos muçulmanos quando Olodumare estava irado com eles.
O que adivinhou para os 400 muçulmanos que provocaram a ira de Olodumare pronunciou o seguinte conjuro: “quem é mais audaz sempre implorará indulgência”. O adivinho já havia advertido o líder daquele grupo sobre a inconformidade de Olodumare por propagar sua fé mediante o derramamento de sangue.
Iwori Obara, que se encontrava de visita naquele país, percebeu que um dos líderes muçulmanos havia desaparecido, além do mais, muitos morriam em batalhas sendo assassinados.
Após fazer adivinhação, Iwori Obara lhes indicou que, por não realizarem os sacrifícios correspondentes a Exu, nem ao restante dos Orixás, cada um deles tinha que oferecer um carneiro a Olodumare e implorar que os livrasse da desgraça que estavam vivendo.
Quando se dispuseram a realizar a obra, Iwori Obara lhes indicou que Ifá dizia que os sacrifícios seriam realizados fora de casa e que o sangue dos animais seria derramado na terra; dessa maneira, ao invés de derramar sangue humano com o suposto objetivo de impor sua fé, como vinha sendo feito, de agora em diante deveria ser derramado apenas o sangue dos carneiros para apaziguar a irritação de Olodumare.
A partir desse momento, Iwori Obara também foi conhecido como “Iwori O Be Be”, que se traduz como: aquele que fomenta a ação de oferecer o carneiro pai a Olodumare e ser perdoado ao mesmo tempo.
Isso deu origem a uma tradição na cultura muçulmana na qual se sacrifica um animal em ocasiões festivas. Além do mais, quando esse Odu se apresenta em alguma consagração de Ifá tradicional, recomenda-se ao iniciado que deve oferecer um carneiro em sacrifício em nome de Olodumare.
Esse ritual é realizado ao lado da árvore da vida conhecida como “akoko”, da qual se obtêm as sementes sagradas de adivinhação usadas pelos sacerdotes de Ifá.
Olodumare e a Criação
Olodumare é Deus Criador. É devido à sua indiscutível importância e supremacia que os yorubás lhe guardam subordinação. Todos os praticantes dessa cultura, ou qualquer outra que tenha se desprendido de suas crenças, o reconhecem como a energia primária, vital e absoluta de todas as coisas.
Um dos passagens literários da Santeria que se refere ao momento da criação universal pode ser encontrada na seguinte história:
Pataki: A Criação do Universo
Tudo estava em total escuridão. Era a época do primitivo. Esse era o reino de Exu. No entanto, havia uma camada translúcida acima dessa escuridão. Ali estava um terreno que possuía as bases para a existência que se aproximava. Dentro do terreno transparente havia uma médula de luz, ar, água, espaço e a morada do reino de Olodumare (Deus).
Quando chegou o momento da plenitude, Olodumare decidiu ordenar que a luz brotasse e proferiu as palavras: “o no yoo”. Essas palavras fizeram com que toda a escuridão se iluminasse. A luz se fez sobre a escuridão do reino de Exu, que imediatamente levantou sua cabeça para ver o que acontecia.
Ele perguntou a Olodumare: “Quem é você?”. No meio daquela luz, surgiu uma voz que disse: “Eu sou Olodumare, a escuridão que nos envolve não oferece base para a plenitude da existência. Por isso criei a luz, para que a vida possa prosperar e embelezar”.
Exu, um pouco desconfortável, respondeu que ele era o dono da vasta maioria do espaço, pois tudo era escuridão, exceto pela pequena parte que Olodumare ocupava. Contudo, aceitou que a escuridão não leva ao desenvolvimento da vida, mas para compensar, manifestou que se moveria livremente sob a luz.
A partir desse momento, iniciou-se a criação, e as plantas, os animais e as divindades foram criados. Foi então que Exu proclamou: “qualquer tipo de vegetação que prospere sob a luz brilhante se tornará meu terreno de trabalho, e qualquer ser que se crie no vasto espaço será meu servo e assistente”.
A partir desse momento ficou estabelecido o início da existência e o equilíbrio provocado por Olodumare como representante da luz, da verdade e da vida, e a manifestação de Exu na escuridão, confusão, morte ou castigo como contraparte.
Obatalá e Olodumare
Todos os Orixás são missionários de Olodumare igualmente, sendo amados da mesma forma que qualquer criatura da criação. Contudo, Obatalá é considerado um filho que desfruta de uma graça especial perante Deus. Acredita-se que ele seja um intermediário direto entre Olodumare e os seres de qualquer plano.
A elevada posição atribuída a Obatalá fez com que ele fosse considerado um representante direto de Olodumare na Terra, sendo símbolo de altíssima pureza, bondade e luz.
Olodumare, o Criador do Axé
A palavra “Axé” é muito utilizada pelos praticantes de Santeria ou a regra de Osha e Ifá. Mas, o que é o Axé? E por que ele está diretamente relacionado a Olodumare?
O Axé é o poder Divino usado por Olodumare para criar o Universo. A manifestação do Axé, originalmente, estava apenas em Olodumare.
Era uma extremidade ou protuberância de sua essência, localizada na casa da luz, que depois se manifestou através de uma expressão verbal pronunciada por Ele. Posteriormente, parte desse poder foi depositado em atributos dados a Orichanlá (Obatalá), a Exu e a outras divindades.
Segundo a religião Yorubá, Olodumare concedeu o Axé a tudo o que existe, até ao que pode ser considerado “mau”. Isso ocorreu devido à necessidade de equilíbrio e harmonia no universo.
Acredita-se que o mundo seja gerado a partir de duas energias: uma expansiva, conhecida como luz, de caráter masculino, e outra de contração, conhecida como escuridão, de caráter feminino. O vínculo entre elas é perfeitamente equilibrado, portanto uma não pode anular a outra.
A partir dessa ideia, estabelece-se a percepção binária que os yorubás sempre tiveram do mundo, refletida inclusive no sistema de adivinhação de Ifá. O Axé é de extrema importância na Santeria.
Partindo de uma substância invisível emanada de Olodumare, ela tem o poder de transformar a força espiritual em uma realidade física, com polaridades naturais positiva e negativa. Quando essas energias se misturam em total equilíbrio, cria-se uma terceira substância perfeita e intangível, que é o que chamamos de “Axé”.
É nesse momento que se fundem os quatro elementos que compõem a presença física e mágica universal: ar, água, terra e fogo. A partir daí, gera-se a vida ou a existência, sendo esse processo respaldado por um Orixá que, por sua vez, possui o Axé concedido desde a criação.
Esse princípio determina a distribuição das energias e dá origem à formação de uma nova vida, tornando o Orixá que participou nesse processo o anjo da guarda do novo ser.
Culto a Olodumare na religião Yorubá ou Santeria
Como explicado anteriormente, na religião Yorubá e suas variantes afro-caribenhas, como a Santeria ou a regra de Osha e Ifá, não se utilizam símbolos, estátuas ou fundamentos para representar Deus. Sua condição de supremacia, que o identifica como Ser Todo-Poderoso, principal e criador de tudo o que existe nos planos físico e espiritual, torna impossível defini-lo.
Adicionalmente, os yorubás acreditam que todos os seres, independentemente de sua natureza, podem experimentar a presença de Deus de diversas formas, razão pela qual não há um símbolo específico que o defina, pois dar-lhe uma única forma não faria sentido.
É importante ressaltar que, contrariamente ao que alguns pensam, Olodumare não é distante ou inacessível do ponto de vista Yorubá. Isso se evidencia na maneira como frequentemente se expressam.
Uma frase comum dentro da comunidade yorubá é “rogo que Olodumare te acompanhe”, usada para se referir àqueles que vão embarcar em uma longa jornada; outra muito comum é “que Olorun nos guarde até o amanhecer”, dita antes de dormir.
Portanto, a ausência de templos, rituais ou estatuetas não diminui a importância da crença na existência de Deus como ente de toda bondade. De fato, cada praticante vê e sente Olodumare como parte de si mesmo.
Sua adoração não é distante ou separada daquela dos Orixás, pois o iniciado o tem presente em todos os momentos, sabendo que, por meio da energia vital, ele possui a sua existência, como afirma o Odu de Ifá Babá Ejiogbe: “Nosso coração é a morada de Olodumare”.
Outro aspecto de grande importância na Santeria é a organização social e hierárquica, que é o fundamento da filosofia de sua religião. O valor da ancestralidade e da antiguidade é determinante para o exercício de suas atividades em todos os sentidos. Evidentemente, Olodumare ocupa o primeiro lugar diante de tudo, por ser o mais antigo de todos os seres existentes.
Assim, no pensamento coletivo, evita-se perturbar Olodumare o quanto possível, recorrendo aos Orixás como mediadores entre os homens e o Ser Supremo, sem que isso implique que Deus seja alheio aos assuntos humanos.
De fato, quando as pessoas rendem culto ao seu anjo da guarda, ao mesmo tempo rendem culto a Olodumare, pois a missão primordial dos Orixás é agir como intermediários entre o homem e Deus, e finalmente, a todos os sacrifícios chegam aos pés de Olodumare.
Como se saúda Olodumare?
Devido à ausência de fundamentos ou altares para representar Olodumare, pode-se saudá-lo em qualquer lugar, até mesmo de qualquer maneira; elevando uma oração estabelecida ou com alguma frase dedicada de coração. Também é comum tocar o chão e beijar o rastro de poeira nos dois dedos com os quais se tocou (isso é feito no momento em que se menciona seu nome).
Olorun: a segunda manifestação de Deus
Olorun é outro nome utilizado para se referir a Deus dentro da religião Yorubá e na Santeria. Estima-se que ele seja a segunda manifestação de Olodumare. Seu nome faz referência ao seu poder sobre orún (o céu).
Diz-se que quando falamos de Olorun, nos referimos a uma fase de Deus em que Ele está em contato direto com os seres humanos. Ele é identificado como a projeção da energia intangível e sublime de Deus.
É importante destacar que Olorun não é um Orixá. Como um dos nomes dados a Deus, é claro que Ele está em um nível muito mais elevado. Olorun está muito além das divindades e dos seres humanos.
Quem é Olorun?
Olorun é Deus com as características comuns a todas as religiões do mundo: Ele é todo-poderoso, onipresente, onisciente e onipotente. Olorun habita em cada ser criado por seu Axé, o que revela Sua presença em absolutamente todos os cantos do Universo.
Por isso, a palavra de Olorun dita o que é bom e o que é mau, o que é verdadeiro e o que é falso, e se manifesta dentro do ser humano através da voz interior que chamamos de consciência.
Ele é reconhecido como o dono da vida, aquele que fornece a energia. Sua energia é o sustento da vida, da luz, do ar e do vigor que impulsiona tudo.
A relevância e a presença de Olorun nas atividades dos iniciados nas religiões de matriz Yorubá, como a Santeria ou Ifá, são evidentes no uso marcante de provérbios, orações, promessas, e na dinâmica social e religiosa do dia a dia. Na verdade, é mais comum para o povo Yorubá invocar o nome de Olorun para pedir bênçãos no término de seus assuntos gerais do que o nome de qualquer Orixá.
No entanto, a ideia de que Deus, em Sua manifestação como Olorun, esteja distante dos seres humanos se origina da premissa de que Sua energia é tão poderosa que poderia prejudicar os humanos se estivesse muito próxima. Essa é uma interpretação equivocada que surge ao relacionar Olorun ao sol.
Além do mais, essa visão é sustentada pela filosofia que afirma que a existência dos Orixás foi planejada por Deus para intermediar entre Ele e os humanos. De fato, os Orixás foram investidos de diversas potências, incluindo a administração das forças da natureza e a proteção da humanidade, mas isso não significa que Olorun, como Deus Supremo, tenha perdido o interesse pelos assuntos de Sua criação.
Olorun é o Sol?
Há uma interpretação de que Olorun é uma manifestação de Deus que fisicamente se transfigura no astro Sol. Isso se deve a várias razões, sendo uma delas a evidente importância do sol no nosso sistema solar.
Sua energia contribui para a manutenção da vida, estimulando a produção de oxigênio e, consequentemente, o crescimento e desenvolvimento dos seres vivos. Essas características alimentaram a crença de que Olorun seria o Sol, devido à sua influência na manutenção da vida, pelo menos no planeta Terra.
Contudo, Olorun não significa Sol. O termo correto em Yorubá para Sol é oorun. A palavra Olorun é simplesmente outro nome dado a Deus. Certamente, uma das características atribuídas pelos Yorubás a Deus é que Ele é um ser imaterial, sem uma forma fixa, e não deseja ser limitado por uma forma. No fim das contas, Ele está presente em tudo e faz parte de tudo.
O que significa Olorun?
A palavra Olorun pode ser dividida da seguinte forma para sua interpretação: ol / orun. A palavra orun significa céu; e ol é uma repetição da primeira letra de orun, e, junto com a letra l, é usada para indicar posse ou propriedade. Assim, pode-se concluir que Olorun significa “o Senhor do Céu” ou “o dono do Céu”.
Culto a Olorun
É interessante notar que, embora a filosofia Yorubá explique que Deus criou todos os seres existentes e confiou aos Orixás a proteção e orientação dos humanos, em algumas regiões da África, até mesmo em territórios yorubás, o culto a Olorun é exclusivo. Não se adora outro Deus e Olorun é frequentemente relacionado ao astro Sol.
Ele pode ser chamado de “Lorun”, e sua descrição é a mesma nas demais culturas relacionadas. Em algumas dessas culturas, Olorun recebe várias ofertas e manifestações de respeito, algumas das quais são mantidas nas religiões de origem Yorubá na América.
Um exemplo muito popular é a oferta conhecida como ñangareo. Nesse ritual, costuma-se dar ciência a Olorun de que será realizado um itá na Terra, pedindo Sua bênção para o sucesso da ação.
Saudação a Olorun
Olorun está presente em todos os lugares, não importa se é dia ou noite, não importa que não possamos vê-lo. Ele está sempre ali. Podemos saudá-lo parando, olhando para o céu, estendendo os braços para cima, com as palmas abertas, e pedindo Sua bênção.
O que significa Olorun nagbe?
Olorun nagbe ou Olorun ona agbe é uma frase que significa: “Que o céu te purifique” ou “que você encontre o seu caminho”. É uma forma de abençoar o outro, comumente usada pelos pais ou padrinhos para abençoar seus filhos ou afilhados.
“Que o céu te purifique” é uma maneira de dizer: que Deus te abençoe, te livre de tudo que é negativo. Uma espécie de imploração ao Altíssimo para que traga bem-estar à pessoa. “Que você encontre o seu caminho” é uma forma de pedir a Deus que a pessoa encontre seu destino nesta Terra.
Alguns iworos também utilizam a expressão “Olorun Awe” ou “Olorun Nawe”, que significa: “Que Deus te abençoe”.
Pataki: Os adoradores do Sol. Odu de Ifá
Havia um adivinho chamado Oshe Bori Boshe. Ele vivia na terra de Borobole. Esse adivinho tinha uma vida muito triste, pois sua terra era muito pobre e ele não conseguia obter nenhum progresso.
O Awo Oshe Bori Boshe passava seus dias apenas olhando para o Sol, segurando seu Ifá nas mãos, enquanto cantava: “Baba Olofin Oyá loleo, Baba Olofin Oyá Baba odeo, Ifa laye shibaba ni Olorun foribale, layebi awo.”
Olorun, ao ouvir esse cântico constantemente, um dia se aproximou e o abençoou, dizendo: “Em seu caminho e em suas mãos está sua prosperidade. Olhe para Orunmilá.” Quando ouviu a voz de Olorun, Awo Oshe Bori Boshe ficou assustado. Era meio-dia, e o que estava acontecendo era algo que ele nunca tinha visto antes.
Naquela noite, ele se banhou com as ervas: ashibata, imo de Oxum, orosún, flor do romerilho, paraíso e mel. Colocou o gorro na cabeça e se deitou. Na manhã seguinte, às 4 horas da manhã, sentou-se diante de seu Ifá e olhou para ele. Saiu o Odu Oshe Iwori. Ifá repetiu o que Olorun já havia lhe dito: “Dê um peixe de rio ao seu Ifá, junto à sua cabeça.”
Ao ver esse sinal, ele ficou ainda mais assustado e rapidamente saiu com seu Ifá em direção ao monte, às margens de um rio. Ao pé de uma planta de paraíso, deu de comer ao seu Ifá, como fora orientado. Enquanto colocava escamas de peixe e mel, Oyá apareceu e cantava: “Ifa nile awo Ifa nile, awo Oshe Paure Ifa odara, Ifa nile awo bi Olorun.”
Awo Oshe Bori Boshe se assustou ao vê-la e ouvir seu canto, mas Oyá lhe disse: “Eu sou Yansã”. Então, Awo Oshe Bori Boshe fez a adivinhação para ela, dizendo que ela possuía grandes segredos e poderes para resolver muitas questões.
Quando terminou, Oyá falou: “Pegue seu Ifá e venha comigo para minha terra, lá eles não conhecem Orunmilá.” E a levou até a terra de Obashire, que era o reino de Oyá.
Ela chamou todas as pessoas de seu povo, apresentou Awo Oshe Bori Boshe e disse: “Assim como eu ensinei vocês a adorar Olorun, agora devem adorar o segredo de Ifá que Awo Oshe Bori Boshe ensinará a partir de agora. Ele passará a se chamar Awo Obari Boshe.”
História: Ilogun, o sábio médico abençoado por Olorun
No início da criação do mundo, existia um Awo muito inteligente e bom, conhecido como Ilogun. Ele era um médico curandeiro sábio, que conhecia perfeitamente o uso das ervas.
Um dia, ele precisou fugir da floresta onde morava. Em sua pressa, conseguiu levar consigo uma grande quantidade de ervas e medicamentos secretos, que só ele conhecia.
Navegou por uma longa travessia. Durante sua jornada, encontrou um peixe que estava procurando há muito tempo. Ao dar o tratamento adequado ao peixe, ele poderia produzir um remédio capaz de curar praticamente todas as doenças.
Com o tempo, Ilogun salvou muitas vidas, curando e aliviando inúmeras doenças graças àquele peixe. Mas um dia, Ilogun percebeu que o peixe estava começando a murchar. Isso o deixou surpreso e preocupado, pois ele não sabia como poderia repô-lo, já que encontrar aquele tipo de peixe era extremamente difícil.
Pensou em voltar ao mar, até o lugar onde o encontrou, mas isso colocaria sua vida em risco novamente, sem garantia de sucesso. Enquanto pensava no que fazer, seu okpele caiu do bolso, e viu que seu Ifá tinha saído, mostrando o Odu Oshe Paure.
O mais surpreendente foi que, ao cair o okpele, também caiu uma escama do peixe, da qual nasceu um novo peixinho espontaneamente. Ele cresceu rapidamente diante dos olhos atônitos de Ilogun, que pensou que essa era a solução para seu problema. Ele poderia continuar com suas curas.
Mas ao tentar pegar o peixe, ele se escorregava de suas mãos. Tentou diversas vezes, mas sem sucesso. Sem saber o que fazer, Ilogun elevou seu pensamento a Olorun, pedindo Sua ajuda. Olorun atendeu ao seu chamado, e Ilogun pediu que chamasse o peixe. Olorun atendeu, e o peixe se aproximou aos pés do Criador, transformando-se em um homem.
Isso ocorreu porque todo animal que vê Deus se torna humano. Mas o corpo do peixe estava danificado e doente devido ao esforço que ele fizera com Ilogun. Olorun o chamou de Baba Agroniga, fazendo dele um filho de Ilogun Awo Oshe Paure, com o poder de curar doenças. Juntos, graças a Olorun, ajudaram a curar inúmeras pessoas pelo mundo.
Olofin: Quem é? A terceira manifestação de Deus
Olofin é a terceira manifestação de Deus. Ele é considerado o aspecto mais sensível de Deus. Seu poder é capaz de dirigir, controlar e transformar a energia universal. O termo Olofin é uma das várias formas de se referir a Deus, e entre esses termos, é um dos mais populares nas Américas.
A palavra Olofin pode ser confusa em alguns contextos e até controversa, devido às várias interpretações que recebeu, muitas das quais são errôneas, o que leva os praticantes da Santeria, ou da regra de Osha e Ifá, a ter uma visão equivocada sobre seu significado.
Olofin é um título honorífico utilizado para exaltar Deus, o único e criador, responsável pela existência de tudo o que conhecemos e até o que não conhecemos. Usar esse termo para se dirigir a Deus é uma maneira de reconhecer Seu poder, Seu reinado ou Sua posição suprema na sociedade yorubá.
Significado de Olofin
Existem várias interpretações para o termo Olofin, algumas delas incluem:
- Olọ̀fin: Este nome pode ser decomposto em olo / ọ̀fin, significando “posse do palácio”. Refere-se a Deus como o senhor do palácio ou o monarca que reside no castelo, aludindo à Sua posição de soberania máxima (a casa do rei era a construção mais importante nas cidades yorubás). Esse termo também pode ser usado para se referir ao Ọọ̀ni (rei de Ilé Ifẹ̀) ou a qualquer outro rei dentro do território yorubá, destacando a importância de seu cargo ou poder.
- Olóòfin: O legislador, aquele que cria, impõe e é dono da lei. Ele é quem estabeleceu as leis universais que definem o funcionamento da existência em sua totalidade.
- Ọlọ́fin ayé: O que governa o mundo.
- Ọlọ́fin ọ̀run: O que governa o céu.
O que significa “receber Olofin”?
“Receber Olofin” é uma expressão utilizada pelos Babalawos para se referir a um cerimonial em que recebem o fundamento da deidade Odù. Embora esse termo seja amplamente utilizado, ele não significa que Olofin (Deus) seja adorado diretamente como uma entidade material dentro da regra de Ifá, apenas porque “é recebido”.
Esse fundamento nada tem a ver com o Deus Todo-Poderoso, como já ficou claro, Olofin, em qualquer uma de suas manifestações, não têm representações físicas devido à Sua magnificência.
Por que se confunde a deidade Iwa Odù com Olofin?
Odù é a lendária esposa de Ifá. Sua energia é considerada um segredo muito importante no culto de Ifá, e por isso, é um patrimônio precioso para os Babalawos. Na África, ela é chamada de Igba Odù.
A confusão entre Olofin e Odù surge do uso da palavra Olofin para atribuir hierarquia e importância à pessoa ou deidade a que se quer se referir. Por isso, em Cuba, a prática de chamar Odù de Olofin se popularizou, embora essa expressão não tenha relação com Olodumare.
Odù, por sua vez, tem um fundamento sagrado. Seu segredo está guardado em uma cazuela sagrada que só pode ser vista pelos consagrados em Ifá. Não pode ser exposta a mulheres, já que isso constitui um tabu que, se quebrado, pode trazer consequências graves.
Em Cuba, o fundamento de Odù se popularizou no início do século XX, sendo dado apenas aos awoses que lideravam famílias religiosas de Ifá. O termo Olofin foi então utilizado para se referir a esse fundamento, e seu acesso foi limitado a poucos, geralmente aos mais velhos de cada linhagem.
Diz-se que essa prática foi transgredida por Miguel Febles Padrón Ifátola, ao receber o fundamento de Olofin de seu pai, Ramón, quando na verdade o direito de recebê-lo deveria ser de Panchito Febles, por ser o primogênito. A partir daí, ele passou a distribuir esse poder a outros awoses, aumentando a quantidade dessa cazuela secreta em Cuba.
História: O segredo de como Olofin concedeu o Axé de Santo
Aconteceu que, no momento em que Oshe Tura chegou ao mundo por ordem de Olofin, ele percebeu que todas as pessoas estavam na Terra sem poder pronunciar palavra alguma.
Eleda estava opacado, escondido na sombra, observando, pois também não conseguia falar.
Então, Oshe Tura, alarmado, foi novamente até Olofin para informar que os Orixás, de fato, estavam realizando os rituais de adoração conforme indicado, mas que apenas conseguiam se expressar através dos oráculos de Ifá ou do Dilogun, como fora determinado por Olofin.
No entanto, eram apenas os Ebora (os Egun) que podiam falar. Eleda Orixá também não conseguia emitir uma palavra sequer. Oshe Tura, muito preocupado, explicou a Olofin que aquilo não estava certo, pois era uma grande injustiça que Eleda, apesar de ser tão grande e poderoso, não tivesse a capacidade de falar.
Olofin, após ouvir tudo isso, chamou Orunmilá e perguntou a ele sobre os detalhes do que estava acontecendo na Terra. Então, Orunmilá explicou que, quando Boshenshe havia descido à Terra, ele havia rejeitado a cabeça humana para poder falar.
Diante dessa situação, Olofin sentenciou: “Está bem, respeitaremos para você e para seus omos (os awoses) o pacto que foi feito por Boshenshe, mas é essencial que Eleda possa falar. Enviarei novamente Oshe Tura à Terra. Ele será o comissionado para se preparar e alterar essa situação. A partir de agora, essa tarefa será dele.”
Imediatamente, os ebós necessários foram feitos diante de Ifá para Oshe Tura. Para isso, usaram uma galinha d’angola, uma faca, uma língua, além dos aseshes: ero, obi, kolá, muito mel, peixe, jutia defumada e milho torrado. Após os rituais, explicaram a Oshe Tura como ele deveria usar o poder que acabara de receber, pois essa era uma função nova para ele.
Com o passar dos dias, Oshe Tura foi dominando as virtudes que adquiriu. Quando se sentiu preparado e soube todas as funções de seu cargo, desceu novamente à Terra. Chegando a Ilé Ifé, ele reuniu todos os Orixás e disse: “Eu sou Oshe Tura, já me conhecem. Eu sou o dono do Axé por virtude de Olofin, que me chamou de Asheda. Sou eu quem dá o poder de falar a Eleda.”
Naquela reunião estavam todos os Orixás, exceto Olokun, Boromi, Borosia, Orixá Oko, Obá, Ossain (Ozain) e Ayao, que não puderam chegar, pois estavam muito distantes. No entanto, os presentes concordaram que tudo fosse preparado para receber o Axé de Oshe Tura.
Os Orixás foram organizados em fila, e, um por um, passaram diante de Oshe Tura. Ele dizia: “Omi lenu” (abra a língua) e, com a faca, fazia uma marca sagrada em sua pele. Em seguida, passava o Axé preparado com mel, milho torrado, peixe e jutia defumada, instruindo-os a engolir tudo aquilo.
Por fim, pegava uma galinha d’angola, decapitava-a e fazia com que cada Orixá chupasse o pescoço da ave, dizendo as palavras: “Umpele Orixá, umpele Osha, ashela dideo”, que significa: “Fala, Orixá, fala, Santo, levanta-te, espírito imortal.”
A cabeça seca de cada galinha foi oferecida a cada Orixá, para que a guardassem como testemunho daquela obra. A partir daquele momento, Eleda passou a ser conhecido como Asheda Orixá e obteve a capacidade de falar como um Orixá por meio de cada ser humano.
Por isso, todos os Orixás, com exceção de Orunmilá e dos que não estavam presentes na cerimônia, descem até a cabeça dos humanos. Isso ocorreu devido ao mandato de Olofin, que foi cumprido na Terra por Oshe Tura. Orunmilá se manteve afastado em respeito ao juramento de Boshenshe, pois os juramentos de Ifá jamais podem ser quebrados.
Apaixonada pela cultura Yorubá e Bantu. Minha jornada é dedicada à exploração da espiritualidade ancestral, mergulhando nas ricas tradições dos Orixás e na sabedoria que conecta nosso passado ao presente. O Templo Lukumi é meu espaço para compartilhar insights sobre mitologia, rituais e a influência contínua dessas tradições em nossa vida moderna.