Oxum (Òşun) é uma Orixá venerada no sudoeste da Nigéria pelo povo Yorubá, representando a feminilidade divina. Esta deidade maternal, que simboliza a água, a pureza, a fertilidade, o amor e a sensualidade, desempenha um papel fundamental na vida e nas crenças de seus devotos.
Considerada uma das deusas mais poderosas, Oxum possui atributos humanos como vaidade, ciúmes e raiva, que complementam sua natureza divina.
Quem é Oxum?
Falar de Oxum é falar da energia que move o amor, a fortuna, a beleza, a família, a pátria, o lar, a cozinha, as mulheres, os sentimentos e a imaginação. Também conhecida como “Yalodê”, Oxum foi, em sua passagem pela Terra, uma mulher de coração imenso.
Seu amor pela família é tão grande que se diz que perdeu a virgindade para salvar sua irmã Oyá, razão pela qual não se pode oferecer a ela animais machos sem castrar. Oxum é vista como a Afrodita da Santeria, sendo sua beleza inigualável, cheia de sensualidade, graciosidade e feminilidade. Seu elemento natural e seu lar são as águas doces, sendo a deusa dos rios.
Na Nigéria, é adorada no rio que leva seu nome e é a Orixá tutelar da terra de Osogbo. Segundo o Odu Oshe Meji, Oxum nasceu em três lugares: Ijesa, Magino e Ifé.
Diz-se que Oxum sempre acompanha Yemanjá, com quem auxilia as mulheres durante o parto. No processo de concepção, sua energia é emanada na criação da placenta, protegendo a formação do feto.
Oxum é, por natureza, protetora das mulheres, não aceitando que sejam maltratadas pelos homens e castigando severamente quem levantar a mão contra uma de suas filhas. Ela também é tida como uma deusa que pode ouvir e ver tudo.
Outros nomes pelos quais é conhecida esta Orixá
Além de ser amplamente reconhecida como Oxum (Òşun), esta deidade é chamada por diversos outros nomes que refletem seus múltiplos aspectos e a veneração que inspira:
- Iyalorde: Um título que destaca sua posição como “Rainha Mãe”.
- Yeye Kari ou Yeye Moro: Significa “pequena mãe”, refletindo sua natureza alegre, mas imponente.
- Iyami Aje: Nome que enfatiza seu poder como mãe ancestral com atributos mágicos significativos.
- Osún Dodowa: Nome usado na região de Iyesá.
- Eninare: “Aquela que foi colocada no caminho da bondade”, utilizado na Nigéria para destacar sua benevolência.
- Awoyemi ou Omoyumi Naki: Nomes usados em Ifé, Nigéria, destacando seu papel como mãe generosa e fonte de vida.
- Oore Yeyé: “A mãe benevolente”, enfatizando sua generosidade e cuidado maternal.
- Sèègèsí: A encarnação da graça e beleza.
- Olóòyá iyun: A famosa trançadora de cabelo com o pente adornado com contas de coral.
Esses nomes refletem a profundidade da veneração a Oxum e a riqueza de sua importância na religião Yorubá, ressaltando seu papel nas diversas facetas da vida e do cosmos.
Características de Oxum
Oxum se destaca na cosmologia Yorubá por sua conexão com as águas e a fertilidade, assim como por seu papel no equilíbrio e na harmonia universal. Sua história reflete uma influência profunda, sendo essencial para a criação da humanidade e da vida na Terra.
Foi enviada por Olodumare para povoar e dar vida ao mundo, e com suas águas revitalizou a Terra, garantindo a existência humana e de outras espécies. Sua transcendência vai além da criação, abrangendo a perpetuação da vida e o ciclo de nascimento, vida e morte.
Como deusa da fertilidade, seu papel é crucial neste ciclo, evidenciando a crença Yorubá na interdependência de todas as formas de vida. A influência feminina, personificada em Oxum, é vista como vital para a continuidade da vida, destacando sua posição como protetora das mulheres e padroeira da gestação e do parto.
Oxum, conhecida por sua onisciência, é guardiã da ética e da moral. Ela tem o poder de castigar aqueles que a ofendem ou causam mal a seus protegidos, destacando-se como uma poderosa guerreira e feiticeira. Sua capacidade de ser tanto a dádiva da vida quanto a portadora da justiça reforça a complexidade de sua figura.
Como é esta Orixá? Temperamento e Personalidade
A imagem de Oxum é a de uma mulher morena, bonita, alegre e festeira. Ela se faz notar onde quer que vá, com o som característico de suas manilhas e sinos. Oxum tem a habilidade de resolver todos os tipos de conflitos, ao mesmo tempo em que provoca disputas entre os Orixás e os humanos.
Na Nigéria, ela é descrita como uma mulher bondosa, cheia de jovialidade, que chama a atenção pela sua risada inconfundível ou até mesmo pelo seu choro. Embora tenha um temperamento um tanto agressivo, ela é reconhecida pela sua força guerreira e determinação.
Amiga e defensora da verdade e da justiça, suas decisões são vistas como imparciais e definitivas. Diz-se que, enquanto esteve na Terra, Oxum se destacava pela sua presença imponente, pela seriedade e firmeza de sua palavra. Ela se sobressaía entre as outras mulheres por sua beleza incomparável e sua maneira única de dançar. Porém, sua raiva e sua soberba são temidas por seus devotos.
Cores
No Brasil, é tradicional atribuir a cor amarela a Oxum, pois essa tonalidade simboliza alegria, inteligência, riqueza e opulência, características que estão diretamente relacionadas a essa Orixá. Dependendo do caminho pelo qual se manifesta, a cor amarela pode ser combinada com dourado, branco, verde, vermelho ou preto.
Número
O número que identifica Oxum é o 5, um número carregado de grande misticismo e significado espiritual. O 5 simboliza o quinto elemento, que está profundamente relacionado à espiritualidade e à ancestralidade. Os cinco sentidos humanos estão entrelaçados para ajudar a conectar o plano terrenal com o espiritual.
Este número também simboliza a constante mudança, o movimento das energias e a transcendência. Acima de tudo, o número 5 representa a sabedoria adquirida por meio da experiência, uma virtude que Oxum personifica. Além do mais, Oxum se comunica através do diloggun (caracol) pelo Odu “Oshe”, que corresponde ao número 5.
Dia de Oxum
O dia de Oxum é celebrado em 8 de setembro, graças ao sincretismo realizado pelos ancestrais africanos com a Virgem de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba. Além do mais, seu dia da semana é o sábado.
Baile
Quando Oxum incorpora em um dos seus filhos de santo, seus bailes são considerados os mais belos e sensuais. Ela agita seus braços, fazendo soar suas manilhas de ouro. Seus movimentos imitam o fluir dos rios e das correntes, e às vezes ela faz gestos como se fosse uma remadora ou imita os movimentos de moagem no pilão.
A dança de Oxum, com seus cinco lenços, é cheia de voluptuosidade. Ela também estende suas mãos para frente, em sinal de súplica, acompanhada de contorções sugestivas. Oxum é atendida com oñi (mel), que simboliza a doçura e a essência amorosa da vida.
Receptáculo de Oxum
O receptáculo de Oxum é uma sopeira, que pode ser de cor amarela, dourada, branca ou multicolorida, dependendo do caminho que se segue.
Colares de Oxum
Os colares de Oxum, conhecidos como eleke, são feitos com contas amarelas e âmbar, em sequências de 5 ou múltiplos desse número. Dependendo do caminho de Oxum, os colares podem incluir contas de outras cores, como azabaches, corais ou conchas.
Traje ou vestimenta
Os trajes de Oxum são belíssimas batas ou vestidos, geralmente em branco, amarelo e dourado. Ela usa uma saia com cinco lenços e uma coroa imponente com cinco pontas, adornada com cristais, caracóis e penas de papagaio africano. Em suas mãos, ela carrega um abanico (leque) de penas de pavão ou perdiz.
Ferramentas de Oxum
As ferramentas de Oxum na santeria afrocubana incluem: uma coroa dourada, cinco manilhas, dois remos, uma campainha dourada, um acheré (cajado), um agogô (instrumento musical), um iruke (varinha cerimonial) e um abanico.
Na Nigéria, seu santuário contém água do rio, considerada curativa, além de olhos e ouvidos de madeira, simbolizando sua capacidade de ver e ouvir tudo, uma espada e uma insígnia de metal fundido, representando sua natureza guerreira.
Oxum na Nigéria
Na Nigéria, a veneração a Oxum se manifesta com profundo respeito e devoção, especialmente na cidade de Òşogbo, localizada no sudoeste do país. Esse lugar é o coração espiritual do culto a Oxum, onde o rio que leva seu nome flui, sendo considerado uma fonte sagrada de vida e purificação.
Festival de Òşun Òşogbo: Celebrado anualmente, o Festival de Òşun Òşogbo é uma expressão vibrante de fé e cultura que atrai milhares de fiéis e turistas. Através de rituais, danças e oferendas, os participantes homenageiam Oxum, buscando sua bênção e proteção. Esse festival não só reforça o vínculo espiritual com a deusa, mas também promove a unidade comunitária, destacando o papel de Oxum como fonte de vida e guardiã de Òşogbo.
A Protetora de Òşogbo: A história de Oxum está profundamente ligada ao desenvolvimento e à proteção de Òşogbo, especialmente durante as Guerras Fulani no século XIX, quando se acredita que ela salvaguardou e garantiu a sobrevivência dos habitantes locais. Sua capacidade de adivinhação e sua conexão íntima com o mundo natural, simbolizada pelo rio que leva seu nome, destacam seu papel como mediadora entre o mundo terreno e o divino, enfatizando a importância do equilíbrio natural e da harmonia dentro da comunidade.
Adivinhação e Cura: Oxum é mestre na arte da adivinhação e nas práticas medicinais, utilizando seu vasto conhecimento das ervas e do oráculo de Ifá para curar e proteger. Sua capacidade de interceder em questões de fertilidade e bem-estar geral reforça seu papel central na vida espiritual e cotidiana de seus devotos. Através da adivinhação, essa orixá guia e oferece soluções para os problemas da comunidade, reafirmando seu papel como protetora e provedora.
O Santuário de Òşun: O santuário dedicado a Òşun em Òşogbo é um local de grande poder espiritual. Os atributos que adornam sua imagem, como os grandes olhos e ouvidos de madeira, simbolizam sua onipresença e sua capacidade de ouvir as súplicas de seus seguidores. Elementos como sua espada e os distintivos metálicos refletem sua natureza guerreira e sua disposição para defender seus devotos. As oferendas de joias, caramujos, pedras de rio e outros elementos naturais são testemunhos de sua conexão com a água e a terra, ressaltando seu papel como fonte de vida e cura.
Adaptações e Sincretismos
Oxum conecta o Yorubá, na Nigéria, com a diáspora africana na América Latina, simbolizando fertilidade, beleza e proteção. Reverenciada no rio Òşogbo, seu culto é celebrado com rituais que homenageiam a vida e a natureza. Na América Latina, Òşun se transforma em Ochún e Oxum, adaptando-se às tradições locais da Santeria e do Candomblé.
Oxum na Religião Católica (A Caridade do Cobre)
Em Cuba, Oxum se sincretiza com a Virgem da Caridade do Cobre, padroeira da ilha. Essa Orixá é invocada por sua proteção maternal, seu poder sobre os assuntos do coração e por sua capacidade de garantir a prosperidade. Seus devotos lhe oferecem espelhos, joias e mel, enfatizando sua conexão com a beleza e a adivinhação.
A Virgem Nossa Senhora da Caridade do Cobre, também conhecida como a Caridade do Cobre ou simplesmente Cachita, é a padroeira de Cuba. Localizada em El Cobre, Santiago de Cuba, sua imagem apareceu flutuando sobre as águas da Baía de Nipe, com a inscrição:
“Eu sou a Virgem da Caridade”. Esse achado, feito pelos “três Juanes”, marcou o início de um sincretismo profundo entre as duas entidades, devido à associação de Oxum com o ouro e o cobre, além de sua fama de caridosa e misericordiosa.
A Igreja Católica reconhece a Virgem como protetora das mulheres grávidas, uma característica que ressoa com o papel de Oxum na religião iorubá.
Oxum no Brasil
No Brasil, Oxum é celebrada por sua importância na maternidade e por governar as águas doces. Ela é vista como uma deusa cuidadora, protetora, com uma profunda conexão com a natureza e a criação. O culto a Oxum envolve rituais com água, perfumes e flores, destacando seu papel como deusa da fertilidade e do amor.
Um Ícone Cultural Transcendental
Além de seu significado religioso, Oxum se tornou um ícone cultural na América Latina, influenciando a arte, a música e a literatura. Sua figura representa a força e a profundidade da feminilidade, a resistência espiritual e a importância da memória e da identidade cultural.
Através de seu sincretismo com figuras católicas e sua presença em manifestações culturais, Oxum simboliza a sobrevivência das tradições africanas e sua capacidade de se adaptar e se enriquecer em novos contextos.
A adaptação de Oxum na Santeria e no Candomblé revela não apenas a resiliência das práticas religiosas Yorubás diante dos desafios históricos, mas também a capacidade dessas tradições de dialogar e se fundir com as culturas locais da América Latina.
A veneração à deusa nessa região destaca a continuidade e transformação das crenças africanas, ressaltando seu papel vital na espiritualidade e na cultura da diáspora africana.
O que se pede a Oxum?
Oxum é uma divindade com muitas virtudes concedidas diretamente por Olodumare (Deus), o que lhe permite influenciar a solução de diversas situações humanas. A Oxum se pede ajuda nas seguintes circunstâncias:
- Curar doenças relacionadas ao baixo ventre, partes genitais, sangue, fígado e hemorragias.
- Intervenção em assuntos econômicos, atraindo riqueza.
- Ajuda em temas amorosos, amarrações e adoçamentos.
- Apaziguar brigas e discussões.
- Elevar a percepção da beleza e do encanto.
- Intervenção em problemas de feitiçaria, castigando inimigos, especialmente aqueles que desrespeitam as mulheres.
- Proteção durante processos de gestação e cuidados com a saúde do feto.
Como se recebe o fundamento de Oxum?
O fundamento de Oxum é recebido por meio de uma cerimônia de três dias de duração, na qual um santero realiza os rituais secretos e entrega o fundamento ao iniciado no terceiro dia. No entanto, essa cerimônia não é comum, pois Oxum normalmente é recebida ao ser consagrada em Kariosha, independentemente de quem seja o anjo da guarda do iniciado.
É importante destacar que os filhos de Oxum devem ser coroados diretamente pela Orixá; não podem se consagrar na modalidade de “santo lavado”, pois isso constitui uma falta grave. Quando são coroados, os filhos de Oxum passam a ser chamados de “Olosún”.
Benefícios de receber Oxum
A razão para receber Oxum está em sua importância dentro da religião de Orixá. Sua presença é crucial nas cerimônias de consagração da regra de Osha e Ifá. Entre os benefícios de receber seu fundamento destacam-se:
- Proteção do equilíbrio espiritual, sendo reconhecida como deusa da fertilidade.
- Bênçãos em temas relacionados à maternidade e fertilidade.
- Capacidade curativa, ajudando a curar enfermos com suas águas medicinais.
- Proteção incondicional aos seus filhos e devotos.
- Ativação de energias de riqueza e prosperidade.
- Proteção contra espíritos malignos, guerras de bruxarias e feitiçarias.
Como atender a Oxum?
Para agradar a Oxum, podem ser oferecidos diversos adimus e oferendas:
- Doces e Frutas: Panetelas, doces embebidos em calda, espigas de milho em rodelas, palanquetas de gofio com mel e caramelos, laranjas, pêssegos e melocotões doces.
- Vegetais e Grãos: Escarola, acelga, chuchu, tamal, arroz amarelo, farinha de milho e cervejas, ekó, ekrú e olelé com açafrão, alegrías de coco e todo tipo de doces.
- Ochinchin: Uma comida litúrgica preparada com ovos, camarões, acelga ou alface.
- Peixes e Mariscos: Lisas, enguias, mapos, dajaos, catibos, guajacones, biajacas, guabinas, camarões de rio e camarões grandes, preferencialmente defumados.
- Guarnições: Amendoins, agrião, canistel, flor de água, espinafre, salsinha, batata-doce, abóbora, pão de milho frio, razupo de feijão, inhame amassado, cerveja de milho de guiné e pudim de milho.
Para mais detalhes sobre como atender a Oxum e as oferendas específicas, consulte nosso guia completo sobre como agradar a Oxum.
O que come Oxum?
A Oxum recebe como sacrifício diversos animais, como cabritos castrados, galinhas, pombas, codornas, galinhas d’angola, jicoteas, faisões, galinhola, canários, corujas, cervos fêmeas, jacarés, pavões, gansos e diversos peixes.
O que Oxum gosta?
Oxum adora abóboras, joias, leques, conchas, vidros pequenos, espelhos, corais marinhos, tecidos bonitos, lenços e panos bordados. Seu animal favorito é o pavão, e ela também gosta de peixes pequenos, peixes de rio e camarões. Suas flores preferidas são o girassol, os guacamayos e o botão de ouro. Oxum ama perfumes, especialmente os aromas de beriberi e sândalo.
O que Oxum não gosta?
Oxum não gosta de lesmas ou caracóis de terra, rio e mar. Ela abomina o melão, o milho de guiné, o pato, o óleo de noz de palma e o milho frito. Não aceita que mulheres menstruadas manipulem seus fundamentos e também não gosta que seus filhos comam suas abóboras, o que constitui um tabu para eles.
Além do mais, Oxum pune implacavelmente os homens que desrespeitam ou batem nas mulheres, especialmente em suas filhas.
História de Oxum (Mitologia Yorubá)
Dentro do panteão Yorubá, Oxum se destaca por sua história de resiliência, sabedoria e poder feminino intrínseco. Sua história, contada através dos Odu de Ifá, narra sua transição de ser inicialmente subestimada por seus contrapartes masculinas até se tornar uma figura essencial para a ordem do mundo.
Uma Grande Mulher entre as Divindades
No início dos tempos, Olodumare incumbiu os Orixás, incluindo Ogun, Xangô e Orunmilá, de ordenar o mundo. Entre eles estava Oxum, a única figura feminina, cuja presença foi inicialmente ignorada nas reuniões importantes. No entanto, sua exclusão logo revelaria sua contribuição indispensável para o equilíbrio cósmico.
A omissão de Oxum nas deliberações fez com que os esforços coletivos falhassem, levando os Orixás a perceberem seu erro após consultarem Olodumare. Só depois de reconhecerem a importância de Oxum e solicitarem sua participação e bênção, puderam avançar com sucesso em sua missão divina.
Ao retornar, os Orixás se desculparam com Oxum e realizaram sacrifícios para apaziguá-la, reconhecendo seu papel vital não apenas na criação, mas também na manutenção da ordem mundial. Oxum exigiu e foi concedida igualdade de participação em todos os rituais e deliberações, reafirmando sua posição como uma divindade de poder equivalente ao de seus contrapartes masculinas.
Esse episódio na mitologia Yorubá destaca a importância da inclusão e do equilíbrio entre os princípios masculinos e femininos para a manutenção da ordem universal. Oxum, de uma posição inicialmente marginalizada até ser reconhecida como indispensável, simboliza a força e a necessidade do princípio feminino na harmonia cósmica.
A Lenda do Assentamento de Òşogbo
A história começa com Olútímíyìn de Òyó e Èlàáróyì de Ìpólé, reconhecidos como cofundadores de Òşogbo. Olútímíyìn, um caçador, descobre o rio Òşun e, sabendo da seca em Ìpólé, informa a Láàróyè sobre a descoberta, levando seu povo a se estabelecer ali.
A presença de Oxum já estava no local quando decidiram se estabelecer perto do rio. Ao tentarem cortar uma árvore grande dentro do bosque, a derrubaram no rio, e uma voz foi ouvida vindo da água, expressando o descontentamento de Oxum pela perturbação, o que levou os colonos a se moverem para o local onde hoje estão o mercado e o palácio.
Esse evento marca o início de sua veneração a Oxum, que depois solicitou que se afastassem das margens do rio para permitir que “seus filhos” (a vida vegetal e animal da área, e possivelmente uma população nativa previamente estabelecida) brincassem livremente.
Essa interação estabeleceu um tratado entre os fundadores e Oxum, destacando seu papel como governante e protetora da região. Além do mais, conta-se como o governante de Òşogbo, ao realizar oferendas e sacrifícios a Oxum, confirmou a bênção das águas do rio, que foram usadas em rituais e fins medicinais.
Essas águas são especialmente significativas para as mulheres que buscam a concepção, evidenciando o empoderamento espiritual que essa deusa oferece através de suas águas.
O Poder da Fertilidade
A visão de mundo Yorubá coloca a fertilidade no coração de sua cultura e práticas espirituais, considerando-a a essência e o propósito da existência. Essa valorização se encarna em Oxum, que narra a importância intrínseca da maternidade e da vida.
Embora se mostre como uma entidade de riqueza e poder, ela enfrenta a prova da infertilidade, uma situação que ressalta como a procriação transcende o status ou a posse material na hierarquia de valores Yorubás.
Sua jornada, detalhada nos Odu de Ifá, a leva a buscar soluções por meio da adivinhação e dos sacrifícios, enfatizando o papel vital desses rituais na obtenção de desejos pessoais e coletivos.
Ao superar seu desafio de infertilidade e ajudar outras mulheres em situações semelhantes, Oxum não só reafirma sua divindade, mas também se torna um símbolo de esperança e um modelo para as mulheres Yorubás, celebrando a fertilidade como um ideal supremo.
Essa história sublinha a fertilidade como um reflexo do Axé — o poder criativo do universo —, com a ausência de descendência vista como uma diminuição dessa força vital essencial.
A sociedade Yorubá, portanto, valoriza a procriação mais do que a acumulação material, considerando Oxum, por sua capacidade de conceder vida, uma figura central na continuidade geracional e na imortalidade de seu culto.
Além do mais, a história de Oxum oferece uma perspectiva cosmológica em que, embora Òrìsà-nlá modele a forma humana e Olodumare infunda vida, é Oxum quem, através de seu útero, introduz essa forma viva no mundo.
Essa ação não só encarna o ciclo do nascimento e a proteção contra as vulnerabilidades inerentes à existência, mas também estabelece uma conexão profunda com outras mulheres que compartilham o sagrado dever da maternidade.
Como divindade feminina, Oxum detém o poder único de ativar a humanidade, destacando a impotência do princípio masculino sem a complementariedade do feminino. Esse poder destaca a interdependência entre os gêneros, reafirmando a importância do equilíbrio e da reciprocidade no tecido da vida e da espiritualidade Yorubá.
Relação de Oxum com Outros Orixás
No vasto e colorido panorama da religião Yorubá, cada orixá carrega uma esfera de influência única, moldando diversos aspectos do mundo natural e das questões humanas.
Dentro dessa complexa rede de divindades, Oxum ocupa um lugar especial, não apenas por seus domínios sobre a água, a fertilidade e o amor, mas também por suas intrincadas relações com outros orixás.
Essas interações tecem um conjunto de histórias e lições que refletem a interdependência das forças da natureza e os princípios éticos e espirituais que orientam a humanidade.
A relação de Oxum com outros orixás vai além da mera coexistência, entrando no campo do simbólico e do funcional, onde seus vínculos revelam o equilíbrio necessário para a manutenção do cosmos e da sociedade Yorubá.
Através de suas conexões com orixás como Orunmilá, Xangô, Yemanjá, entre outros, Oxum exemplifica a harmonia entre os diferentes aspectos da existência, desde o mais terreno até o divino.
A Apetebi de Orunmilá
A união de Oxum com Orunmilá ergue-se como um monumento ao equilíbrio e à interdependência das forças divinas.
Esse casamento não apenas sublinha a complementaridade entre o conhecimento profundo e o controle dos elementos espirituais e materiais, mas também ressalta a importância do sacrifício como meio de acesso e pacificação das energias universais.
A disposição de Oxum em aceitar e apoiar esses sacrifícios reflete seu papel essencial na mediação e manifestação da vontade divina no plano terreno.
A interação entre essas duas divindades, transcendendo seu laço matrimonial, ilustra uma simbiose fundamental entre as dinâmicas femininas e masculinas do cosmos, apontando o imperativo do equilíbrio e da harmonia na manutenção da ordem celestial e terrena.
A sinergia de influências enfatiza a reciprocidade intrínseca ao ato de conhecer e dominar o saber esotérico, reiterando a relevância das oferendas e sacrifícios dentro da tradição Yorubá.
Esse vínculo é um reflexo vívido da interação entre diversas divindades, demonstrando como seus papéis e responsabilidades se entrelaçam e se complementam para facilitar o fluxo harmônico da vida.
Nesse contexto, a união de Oxum e Orunmilá se torna um emblema poderoso da cooperação necessária para o fomento e a proteção da existência em todos os seus aspectos.
Pataki: Oxum e Orunmilá
Em Òṣogbo, terra abençoada por rios e colheitas, se tece uma lenda de Oxum e Orunmilá. Durante uma exploração com Exu, Oxum descobre Eyigbo Meko Nile, um domínio fértil sob a guarda de Orunmilá, o guardião do oráculo de Ifá. Motivada pelo desejo de conhecer o líder de tão prósperas terras, Oxum se dirige até ele.
Orunmilá, que acabara de realizar os sacrifícios do signo Osa Roso, desconhecia como seu destino se entrelaçaria com o de Oxum. A recepção de Oxum e Exu marca o início de um vínculo transformador. Comovida pela sabedoria e generosidade de Orunmilá, Oxum escolhe permanecer ao seu lado, tornando-se sua apetebi (esposa).
Com o tempo, sua união se fortalece, evidenciando uma profunda sinergia. Um desafio crucial coloca à prova a fidelidade de Oxum a Orunmilá, quando um fogo, instigado por Exu a pedido de Xangô, ameaça seus laços. Diante do perigo, Yemanjá protege seus filhos, enquanto Oxum escolhe proteger Orunmilá.
Orunmilá, então, a declara como sua apetebi por seu amor desinteressado e a Iemanjá, por sua maternidade inquebrantável, como mãe de todos. Esse relato não apenas destaca os papéis dessas divindades na mitologia yorubá, mas também eleva Oxum como emblema de amor, fertilidade e proteção.
Pataki: Oxum e Ogun
Ogun, sobrecarregado pelo incessante trabalho e pelo aproveitamento de sua força, se vê exausto e refugia-se na montanha, abandonando suas obrigações. A crise se agrava quando seu pai adoece gravemente. Desesperada, sua família busca a ajuda de Orunmilá, que declara ser vital o retorno de Ogun.
Apesar dos esforços, Ogun se recusa a sair da montanha. Então, Oxum toma a iniciativa. Coberta de mel, ela se adentra na montanha e canta, atraindo Ogun com a doçura de sua voz e a promessa de uma vida renovada:
“Ogun Arere ile bombo lokua, Ogun wa nile, Ogun wa lona ile bombo lokua aye.”
A presença e o canto de Oxum, carregados de esperança e ternura, motivam Ogun a segui-la, marcando o fim de seu isolamento e o início de um novo equilíbrio.
A astúcia e a empatia de Oxum não apenas resgataram Ogun de seu exílio voluntário, mas também restauraram a harmonia, demonstrando que o amor e a compreensão têm o poder de transformar e curar.
Essa lenda ressalta o papel vital de Oxum na cosmologia Yorubá: mais do que uma deusa da fertilidade e do amor, ela é uma força essencial para o equilíbrio e a coesão. A colaboração entre Oxum e Ogun sublinha a importância do apoio mútuo e da interação harmônica entre os orixás para manter a ordem e a estabilidade do cosmos.
A Discórdia entre Oxum e Xangô
Em Akere, uma vila mergulhada na miséria, Oxum decidiu agir diante da penúria de seus habitantes, oferecendo ajuda e consagrações espirituais para melhorar suas vidas.
Isso, no entanto, enfureceu Xangô, orixá do trovão, que, por ofensas anteriores, desejava manter Akere na desgraça. Xangô começou a destruir o trabalho de Oxum, matando aqueles que ela havia abençoado.
O conflito escalou até chegar a Olofin, a autoridade divina, que interveio para cessar a hostilidade. Olofin decidiu que, para preservar a paz, Oxum e Xangô deveriam se abster de consagrar os seguidores do outro, garantindo assim o respeito mútuo e o bem-estar humano.
Esse incidente destaca a necessidade de resolução de conflitos e equilíbrio dentro da cosmologia Yorubá, mostrando como as disputas entre divindades podem afetar profundamente os seres humanos.
A decisão de Olofin enfatiza a importância do respeito mútuo e da cooperação, não apenas entre orixás, mas como um princípio essencial para a harmonia comunitária e universal.
Perguntas Frequentes sobre essa Orixá
Em que signo Oxum desceu à terra?
Oxum desceu ao mundo terrenal acompanhada do Odu de Ifá “Oshe Tura”. Durante essa jornada, ela esteve com Exu Agbire. O odu “Oshe Tura” relata que Oxum desceu à terra para cumprir uma missão imposta diretamente por Olodumare, na qual lhe foi confiado conservar a harmonia entre os humanos, deixando claro que o amor deve ser mantido vivo entre todas as criaturas que formam a existência e o universo.
É verdade que Oxum não perdoa?
Oxum é uma Orixá cuja natureza é muito delicada. Ela não tem tolerância com desobediências aos seus conselhos ou mandatos. Acredita-se que Oxum possui uma grande paciência, mas, quando se irrita, sua ira é incomparável à de qualquer outra divindade do panteão Yorubá. Quando se trata de castigar, Oxum repreende os seres humanos através de doenças nos órgãos genitais ou no sangue.
Frases de Oxum
Disse Oxum: “Procura desfrutar do meu mel, porque nunca vai gostar de provar do meu fel.”
Disse Oxum: “Mantenha minha bênção hoje e sempre, não se esqueça que não aceito traição e, quando me irrito, nunca perdoo.”
Apaixonada pela cultura Yorubá e Bantu. Minha jornada é dedicada à exploração da espiritualidade ancestral, mergulhando nas ricas tradições dos Orixás e na sabedoria que conecta nosso passado ao presente. O Templo Lukumi é meu espaço para compartilhar insights sobre mitologia, rituais e a influência contínua dessas tradições em nossa vida moderna.